por Frassales
No sentido anti-horário: Otílio Guimarães, Cristiano Cartaxo e seu filho Tantino. Em pé o radialista Arruda Neto
Otílio
Ferreira Guimarães foi tesoureiro da prefeitura de Cajazeiras por muitos anos.
Entrava prefeito, saia prefeito, e ele, firme, a emprestar seu nome, sua
honestidade, dedicação e seriedade às finanças municipais. Sem apego a bens
materiais, só duas coisas absorviam sua energia intelectual: os deveres de
servidor público e a leitura. Adquiria livros por meio do reembolso postal.
Chegou a manter com Editora Agir, do Rio de Janeiro, uma espécie de contrato
mediante o qual, uma vez lançada nova publicação, “seu” Otílio a recebia pelos
Correios. E enquanto não chegavam os livros, ele devorava o dicionário.
Ainda
criança, ao voltar da escola de Carmelita Gonçalves, próxima à estação
ferroviária, quando havia trem em Cajazeiras, eu encontrava vez por outra “seu”
Otílio a caminhar, sisudo, da prefeitura para sua casa. Tempos depois, já
estudando no Ginásio Salesiano, eu o via aproveitar o resto da claridade solar,
em fim de tarde, concentrado na leitura, junto à entrada do casarão, onde
morava. Carrego até hoje essa imagem. Imagem de um devorador de livros.
Otílio
Guimarães era genro do coronel Sabino (foto), casado que foi com Odília Rolim
Guimarães. O casal Otílio e Odília mudou-se da casa onde morava na Rua Padre
Manuel Mariano, para o casarão do coronel Sabino, quando sua esposa, dona
Leopoldina, adoeceu, ficando impossibilitada de cuidar da casa, do marido, de
si mesma. Assim, dona Odília, como filha mais velha do coronel, assumiu o
comando dos afazeres domésticos no casarão.
Otílio
Guimarães não completou os estudos formais, como o fizeram, por exemplo, seus
contemporâneos Cristiano Cartaxo e o sobrinho Otacílio Jurema (foto), ambos formados
no Rio, quase 100 anos atrás. Mesmo assim, “seu” Otílio discutia horas a fio
com seus filhos, o advogado José e o médico Sabino Rolim Guimarães. Conversavam
sobre literatura, política, história. O velho Otílio levava a melhor, quase
sempre, porque além de memória privilegiada sua carga de leituras lhe dava
argumentos para dobrar seus filhos ilustres.
Otílio
Guimarães faleceu em 24 de abril de 1975, aos 83 anos. Do seu longo desempenho
à frente da Tesouraria da prefeitura de Cajazeiras, nunca ouvi nada que
indicasse o mais leve traço de desonestidade. Qualquer insinuação relacionada
com Secretários de Finanças de municípios, hoje em dia, fica por conta da
maledicência do leitor.
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