sexta-feira, 30 de março de 2012

A máscara do senador


por Francisco Frassales Cartaxo
Quando a mídia divulgou conversas reservadas do se- nador Demóstenes Torres (DEM-GO) foi um espanto. Não é possível! O senador-promotor? Isso mesmo. Aquele de careca reluzente que se firmou no cenário nacional como paladino da ética neste mar de trapaças envolvendo homens públicos, em conluio com empresários, inclusive com os que exploram jogos ilegais. 
Aliás, foi pelo cofre do contraventor Carlos Augusto Ramos (Carlinhos Cachoeira) que o senador goiano entrou no palco e mostrou sua cara de falso moralista, exposta em conversas comprometedoras. Carlinhos, amigo, obrigado pela geladeira e o fogão, grande presente de casamento. Mais tarde, Carlinhos paga R$ 3.000,00 a uma empresa de taxi aéreo a serviço de Demóstenes. O senador pidão afoga assim o severo promotor. Um estraga prazer, porém, gravou descontraídas conversas entre os dois amigos, um político tido como incorruptível e o esperto contraventor. Gravou e passou à mídia. O advogado do senador foi à televisão para dizer que essas gravações, obtidas sem autorização da Justiça, não têm valor de prova, assim reza a lei. De nada servem. E daí? Para a Justiça, não valem, mas para o cidadão, valem. E como valem! Um puxão no elástico fez cair a máscara do senador Demóstenes, tanto que já foi afastado da liderança do DEM. E, pior ainda, com base em informações da Polícia Federal, o procurador-geral mandou abrir processo que dormia na gaveta desde 2009. O bicheiro já está preso e Demóstenes encalacrado, em vias de perder o mandato.
Curioso, pesquisei na internet a respeito da vida do senador Demóstenes Lázaro Xavier Torres, a começar pelo seu próprio blog. Nascido no interior goiano, em 1961, já advogado, ele foi aprovado em dois concursos públicos: delegado de polícia e procurador. Optou pela procuradoria. Promotor, secretário estadual de segurança, procurador-geral de Justiça, presidente do Conselho Nacional dos Procuradores-Gerais de Justiça foram cargos ocupados pelo ilustre cidadão. Eleito senador em 2002, tornou-se figura de relevo, graças à atuação destemida contra a corrupção, “caixa dois”, desvio de conduta de políticos. O olhar firme da câmera da TV, acusador implacável, estribado na condição de procurador licenciado, parecia uma vestal da antiga UDN, embora sem a cultura, a eloquência, o vozeirão de um Carlos Lacerda ou de um Ernani Sátyro, por exemplo. 
A curiosidade em conhecer um pouco mais sua trajetória resultou numa tremenda frustração. Virei e revirei sítios da internet, consultei um amigo, assessor parlamentar em Brasília, esquadrinhador de leis, projetos, relatórios, essas coisas. E da vida de políticos, também. E aí, perguntei a ele, o senador-procurador fez curso de ator? A resposta foi direta. Não, não consta em seu currículo nada parecido. Nem curso de ator de teatro, cinema ou televisão. Muito menos experiência prática. Quer dizer, a experiência teatral ele adquiriu no senado, aqui em Brasília, disse meu amigo, às gargalhadas, e completou: agora a máscara caiu. De reluzente, fica-lhe apenas a careca... 


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