quarta-feira, 15 de maio de 2013

40 anos depois, o triste retrato do menino do Engenho

Décadas após ter estrelado o filme de Walter Lima Jr, o ator Sávio Rolim vive na penúria, morando em cortiço e com sérios problemas de saúde, como pretende contar o documentário O Menino e a Bagaceira

Por onde onda Sávio Rolim, o ator mirim que conquistou o Brasil há 40 anos, quando protagonizou o filme Menino de Engenho, o maior sucesso comercial de Walter Lima Jr.? A resposta estará no documentário com o título provisório O Menino e a Bagaceira, que o professor universitário e videomaker Lúcio Vilar espera concluir, em parceria com o escritor Antônio Vicente Filho, em João Pessoa, na Paraíba. O material colhido pela dupla mostra que o ator paraibano, hoje um homem de 52 anos, se encontra "submerso no mais profundo ostracismo artístico, com sérios problemas de saúde e morando em um cortiço de João Pessoa". Suas condições são realmente "trágicas", revela Lúcio Vilar.

"Sávio Rolim não conseguiu desenvolver sua carreira com o mesmo brilho de sua estréia e foi condenado ao esquecimento e a precárias condições de subsistência", detalha. E acrescenta: "Ele passa por tamanhas dificuldades, que, muitas vezes, chega a ser confundido com mendigos (ou sem-teto) que perambulam pelas ruas das grandes cidades, anônimo, deletado da memória nacional, como se dela não fizesse parte." Para resgatar o ator do esquecimento, Vilar pretende mostrar o documentário em festivais, universidades e redes de TV. "É claro que não conseguiremos devolver a ele os aplausos de outrora, mas pelo menos lhe ofereceremos um mínimo de reconhecimento e cidadania." Afinal, segundo o diretor, Rolim ajudou, "com sua delicada interpretação, a tornar o filme Menino de Engenho mais lírico e próximo do aroma e atmosfera literários do escritor José Lins do Rego".

Sávio Rolim tinha 12 anos quando interpretou Carlinhos, o protagonista do romance Menino de Engenho. Na década de 70, participou de documentários realizados no Nordeste e atuou em mais um filme de ficção: o nordestern Leão do Norte, de Carlos del Pino (1974). Na década seguinte, fez Bonitinha, mas Ordinária, de Braz Chediak (1981), e pequena participação em Memórias do Cárcere (1984), de Nelson Pereira dos Santos. O desempenho do garoto foi um dos pontos altos de Menino de Engenho. Ele contracenou com Geraldo del Rey, Anecy Rocha, Maria Lúcia Dahl, Antônio Pitanga e Rodolfo Arena e entusiasmou a crítica e o público. A seqüência mais comentada do filme - e que o levou a ser condenado por autoridades religiosas de Minas Gerais - mostrava, discretamente, o jovem Carlinhos fazendo sua iniciação sexual numa das bananeiras do quintal da casa-grande.

Lúcio Vilar, que é professor da Universidade Federal da Paraíba, conta que a idéia de realizar o documentário O Menino e a Bagaceira, surgiu quando reviu a cópia restaurada de Menino de Engenho, lançada com festa no ano passado. "Como o filme fará 40 anos em 2005, achei que seria justo e conveniente reconstruir a história do ator Sávio Rolim, seu maior símbolo." O Menino e a Bagaceira será - na definição de seu autor - "um retrato do ocaso de um ator precoce que participou de um dos títulos mais importantes da cinematografia brasileira." Lúcio Vilar pretende concluir o documentário O Menino e a Bagaceira em agosto. Mas, para tanto, necessita de apoio financeiro. "Nosso projeto é de baixo custo (apenas R$ 20 mil). Já contamos com toda a ajuda possível da Universidade Federal da Paraíba e da prefeitura de Cajazeiras, mas agora necessitamos de recursos para finalização." Interessados em apoiar o projeto podem contatar Lúcio Vilar por e-mail (luciovilar@uol.com.br) ou pelos fones (83) - 224-4136, 9989-2922 ou 9382-3429.
Fonte: Jornal O Estado de São Paulo


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