por Francisco Frassales Cartaxo
O
livro de Nonato Guedes, A Fala do Poder (Perfis e discursos comentados de
governadores da Paraíba), reúne dezesseis discursos de posse entre 1966 e 2011,
de João Agripino a Ricardo Coutinho. Cada discurso vem precedido de ligeiro perfil
do empossado, com destaque para aspectos de sua trajetória política, episódios
e lances folclóricos que ajudam o leitor a captar melhor o contexto no qual se
deu a ascensão do governante. Dos doze governadores eleitos, entre 1965 e 2010,
nove o foram por voto direto e secreto. Os outros três tiveram seus nomes
oficializados em colégio eleitoral restrito. Na prática, foram escolhidos por
generais e, formalmente, chancelados por deputados e chefes partidários
estaduais, em sintonia com o poder militar.
Dos
nove governadores eleitos pelo povo, João Agripino exerceu a maior parte do seu
mandato antes do endurecimento formal do regime, através da edição do Ato
Institucional nº 5, em 13 de dezembro de 1968. Agripino elegeu-se em 1965 ainda
sob a legenda da União Democrática Nacional (UDN), extinta junto com os demais
partidos logo após o pleito, por determinação do AI 2, de 27/10/1965. A velha
UDN “renasceu” pouco depois sob o nome de Aliança Renovadora Nacional (Arena),
enquadrada nas rígidas diretrizes do Ato Complementar nº 4, de 20/11/1965, que
geraram o bipartidarismo, concebido para facilitar o controle dos militares
sobre a classe política.
Wilson
Braga foi eleito na fase de transição do regime militar para o estado de
direito democrático, beneficiado, aliás, pelas regras eleitorais do pleito de
1982, ainda impregnadas de entulhos da ditadura: voto vinculado, sublegendas
partidárias e fortes restrições à propaganda eleitoral no rádio e na televisão,
a famosa “lei Falcão”. Os três governantes biônicos (Ernani Sátyro, Ivan
Bichara e Tarcísio Burity) eram uma espécie de delegados do regime militar,
muito embora suas falas estivessem enfeitadas de referências ao povo, à
liberdade, à democracia, numa retórica inútil dos donos do poder para manter as
aparências de normalidade institucional democrática.
Nonato
Guedes inseriu no seu livro quatro discursos pronunciados por
vice-governadores, alçados ao mando estadual em substituição aos titulares
eleitos. Uma substituição deveu-se à morte de Antônio Mariz, em 16 de setembro
de 1995. Outra se deu em função da inusitada investidura, em 19 de fevereiro de
2009, do segundo colocado no pleito, em decorrente da decisão judicial que
cassou o mandato de Cássio Cunha Lima. Nas duas situações o beneficiário foi
José Maranhão.
Nonato
Guedes não se propôs a fazer análises sofisticadas, mas tão somente, sob o
pretexto de reunir num só volume os discursos de posse de governantes,
facilitar a consulta a documentos históricos e fornecer, sobretudo aos jovens,
um aperitivo para o estudo da história política da Paraíba. A linguagem é a do
jornalista, mais do repórter do que do analista político. Repórter que começou
a atuar ainda muito jovem, quase um menino, copenetrado desde sempre, a
procurar os diversos ângulos dos acontecimentos, alguns dos quais foi
testemunha e partícipe, como ele mesmo relembra ao relatar episódios focados em
protagonistas da fala do poder. Nonato os reconstitui agora, a poeira já
assentada, longe de paixões, intrigas e interesses menores, em texto límpido,
equilibrado, aliás, muito conhecido de todos nós.
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