por Francisco Frassales Cartaxo
Parece
que enterraram caveiras de burro em obras públicas: rodovias, ferrovias, linhas
de metrô, portos, aeroportos, prédios públicos e outras mais neste Brasil que
se moderniza aceleradamente. Uma maldição. Pior ainda, elas, as caveiras,
invadem o setor privado, responsável também pelo atraso de muitos
empreendimentos ligados à produção. Isso não é novidade, dirá o leitor. Mas em
meio à crise mundial e à vista de possíveis saídas para o Brasil, nossas
caveiras de burro adquirem feição dramática. Por quê? Porque a crise lá fora
provoca a queda da demanda de matérias primas e bens intermediários produzidos
no Brasil, exigindo a adoção de estratégia dirigida para ampliar o mercado
interno de forma estrutural, capaz de compensar, parcialmente, a retração
existente no resto do mundo. Em crises anteriores, medidas conjunturais, como a
redução do IPI incidente sobre artigos de consumo, (veículos e
eletrodomésticos), eram suficientes para ativar a economia. Agora o peso desse
estímulo já não produz resultados duradouros, pois a demanda reprimida, antes
notória e ampla, em boa parte foi atendida, de tal modo que providências
tópicas, como baixar artificialmente o preço de carros servem para esvaziar
pátios de fábricas sem, no entanto, gerar novos empregos e renda adicional
capaz de impulsionar a economia.
Que
fazer? Desenterrar as caveiras de burro. As da Delta Construtora em particular.
O início do século 21 viu nascer grandes obras, envolvendo bilhões de reais:
metrô de superfície, construção de rodovias, ferrovias, portos, aeroportos,
hospitais, escolas, barragens para geração de energia elétrica, integração de
bacias fluviais, refinarias de petróleo, obras viárias urbanas e um sem número
de outros investimentos em todas as regiões brasileiras. Hoje, muitas delas
andam em passos de cágado: duplicação da BR 101, transposição do Rio São
Francisco, Transnordestina, Refinaria Abreu e Lima, metrô de Fortaleza, Recife,
Salvador. Só para citar alguns exemplos de grandes obras aqui no Nordeste. Nas
demais regiões, a pisada é a mesma. Verdadeira maldição.
Quando
Dilma Rousseff assumiu a presidência da República, criou-se uma expectativa
favorável. Ora, no governo Lula, a “mãe do PAC”, a ministra responsável pelo
acompanhamento dos principais projetos, desenvolvia suas tarefas com rigoroso
controle, o cronograma de execução física e financeira sempre à vista, Dilma a
exigir pressa e explicações, a ponto de ser, pejorativamente, chamada de
gerentona. Que azar! Passado mais de um ano de seu mandato, o panorama não
mudou. Para cada atraso, existem motivos, bem sei. Difícil, porém, aceitar
justificativas fajutas, sobretudo porque na maioria dos casos, é questão de
vida e morte acelerar os investimentos para ajudar o País a enfrentar com
sucesso a crise mundial, cujo término constitui enorme desafio até mesmo para
os mais argutos especialistas. Talvez Dilma esteja precisando de alguém com
perfil semelhante ao seu, para dividir a ingente tarefa de desenterrar as
caveiras de burros espalhadas por toda a parte. Quem sabe, a presidente Dilma
encontre já, já sua Dilma.
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