quarta-feira, 25 de abril de 2012

Crônica de um aeroporto clandestino

Por Francisco Sales Cartaxo Rolim membro do MAC - Movimento dos Amigos de Cajazeiras
Muitos não sabem que existe um aeroporto clandestino na Paraíba. Nele pousam e decolam aviões. E não é um aeroporto qualquer. Tem acesso pavimentado, pátio de manobra, terminal de passageiros e, pasme o leitor, uma pista asfaltada de 1.600 metros de comprimento! Até nome oficial ele tem: Aeroporto Professor Pedro Vieira Moreira. Mas é clandestino.  Fica em Cajazeiras próximo à BR 230. Pela extensão da pista se iguala ao Aeroporto Presidente João Suassuna, de Campina Grande, conforme dados do site da INFRAERO.
A pista do aeroporto de Cajazeiras está pronta há mais de 16 meses, embora legalmente não exista. Como assim? Um pouco de história faz bem. Ele nasceu da teimosia de cajazeirenses em lutar por causas justas de interesse coletivo, com o mesmo espírito de unidade política em favor da implantação do curso de medicina da UFCG, cuja primeira turma deverá ser graduada no próximo ano. Ou da recuperação do Hospital Regional de Cajazeiras, até transformá-lo num razoável núcleo hospitalar, campo de estágio para os sete cursos da área da saúde em funcionamento na cidade. Nasceu do espírito de gente que promoveu, no início de 2010, um Fórum de Debates de alto nível com dois pré-candidatos a governador (Ricardo Coutinho e José Maranhão) no decorrer do qual ficou explícita a seriedade, a ousadia de Cajazeiras.
Pois bem, cansada de promessas eleitorais, essa gente tomou a iniciativa de forçar a construção do aeroporto, a começar pela cobrança inserida no jornal Gazeta do Alto Piranhas. Ainda hoje está lá a fotografia de um avião a exibir uma faixa com os dizeres “Aeroporto de Cajazeiras - 4.584 dias de promessa”, como se lê no número 698, de 13 a 19 de abril de 2012. Mas essa gente não ficou somente na cobrança semanal do jornal do professor José Antônio de Albuquerque ou no papo de entrevistas e artigos divulgados pela mídia. Essa gente foi mais longe. Com objetividade, engenheiros e empresários caíram em campo e, após muito pesquisar no meio dos matos, fixarem-se numa área de terra considerada tecnicamente adequada para construir o aeroporto. Em seguida, fez-se um esboço da planta da obra, primeiro passo para elaborar o projeto. Mais tarde, com esse papel em mãos, cercaram o governador José Maranhão que falou mais ou menos o seguinte:
- Vou procurar o prefeito Léo Abreu para fazer a doação do terreno.
- Preciso não, governador, o terreno já foi doado, disse um dos pioneiros do grupo que mais adiante criou o Movimento dos Amigos de Cajazeiras - MAC.
- Sendo assim, respondeu Maranhão, fica mais fácil ainda, vou recomendar ao DER que tome as providências para limpar a área e iniciar a construção da pista.
Esse diálogo ocorreu na primeira visita de José Maranhão a Cajazeiras, após assumir o que sobrou do mandato do ex-governador Cássio Cunha Lima, interrompido por decisão judicial. A doação de 95% do terreno foi feita pelo médico cajazeirense José Maria Moreira (foto), radicado em São Paulo. A nesga de terra complementar foi agregada em seguida, de modo que, às vésperas do São João de 2009, fez-se uma festa, com palanque e tudo, para simbolizar o início da construção da pista. Sucateado como estava o DER, foi um Deus nos acuda. O MAC, àquela altura já criado, passou a acompanhar, semanalmente, o desenrolar dos trabalhos de nivelamento do terreno: a perfuratriz quebrou, a caçamba está na PB 400, faltou combustível, a chuva atrapalhou... Deslocar a rede de alta tensão demorou mais de três meses! Parecia praga de tartaruga!
Aos trancos e barrancos, contudo, antes de sair do poder, Maranhão deixou concluída a pista e iniciada a edificação do terminal de passageiros. Desde então, decorreram mais de 15 meses, intervalo no qual ficou pronta a pequena estação de passageiros. Faltam, porém, as obras complementares, es- tacionamento, cercar, iluminação noturna e outros serviços de engenharia, além da regularização de pendências legais para, finalmente, requerer-se a homologação do Aeroporto Pedro Moreira. Assim me explicaram.
Hoje Cajazeiras se sente como o náufrago a olhar a praia, aí bem perto do Palácio da Redenção. Cajazeiras anda inquieta com a demora das autoridades estaduais em cuidar de um equipamento importantíssimo para o desenvolvimento do sertão e da Paraíba. Anda preocupada, temendo que a deterioração dos investimentos públicos, já realizados, termine por chamar a atenção do Ministério Público. Preocupada, mas confiante na palavra do governador Ricardo Coutinho, empenhada e reiterada em audiência ao MAC, em agosto de 2011, e publicamente. Ninguém gosta da clandestinidade. Cajazeiras quer um aeroporto legal. Homologado pela ANAC. Só assim, aquela gente espantará a imagem da tartaruga a voar sobre o Açude Grande.


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