Por Francisco Sales Cartaxo Rolim membro do MAC - Movimento dos Amigos de Cajazeiras
Muitos
não sabem que existe um aeroporto clandestino na Paraíba. Nele pousam e decolam
aviões. E não é um aeroporto qualquer. Tem acesso pavimentado, pátio de
manobra, terminal de passageiros e, pasme o leitor, uma pista asfaltada de
1.600 metros de comprimento! Até nome oficial ele tem: Aeroporto Professor
Pedro Vieira Moreira. Mas é clandestino.
Fica em Cajazeiras próximo à BR 230. Pela extensão da pista se iguala ao
Aeroporto Presidente João Suassuna, de Campina Grande, conforme dados do site
da INFRAERO.
A
pista do aeroporto de Cajazeiras está pronta há mais de 16 meses, embora
legalmente não exista. Como assim? Um pouco de história faz bem. Ele nasceu da
teimosia de cajazeirenses em lutar por causas justas de interesse coletivo, com
o mesmo espírito de unidade política em favor da implantação do curso de
medicina da UFCG, cuja primeira turma deverá ser graduada no próximo ano. Ou da
recuperação do Hospital Regional de Cajazeiras, até transformá-lo num razoável
núcleo hospitalar, campo de estágio para os sete cursos da área da saúde em
funcionamento na cidade. Nasceu do espírito de gente que promoveu, no início de
2010, um Fórum de Debates de alto nível com dois pré-candidatos a governador
(Ricardo Coutinho e José Maranhão) no decorrer do qual ficou explícita a
seriedade, a ousadia de Cajazeiras.
Pois
bem, cansada de promessas eleitorais, essa gente tomou a iniciativa de forçar a
construção do aeroporto, a começar pela cobrança inserida no jornal Gazeta do
Alto Piranhas. Ainda hoje está lá a fotografia de um avião a exibir uma faixa
com os dizeres “Aeroporto de Cajazeiras - 4.584 dias de promessa”, como se lê
no número 698, de 13 a 19 de abril de 2012. Mas essa gente não ficou somente na
cobrança semanal do jornal do professor José Antônio de Albuquerque ou no papo
de entrevistas e artigos divulgados pela mídia. Essa gente foi mais longe. Com
objetividade, engenheiros e empresários caíram em campo e, após muito pesquisar
no meio dos matos, fixarem-se numa área de terra considerada tecnicamente
adequada para construir o aeroporto. Em seguida, fez-se um esboço da planta da
obra, primeiro passo para elaborar o projeto. Mais tarde, com esse papel em
mãos, cercaram o governador José Maranhão que falou mais ou menos o seguinte:
- Vou
procurar o prefeito Léo Abreu para fazer a doação do terreno.
-
Preciso não, governador, o terreno já foi doado, disse um dos pioneiros do
grupo que mais adiante criou o Movimento dos Amigos de Cajazeiras - MAC.
-
Sendo assim, respondeu Maranhão, fica mais fácil ainda, vou recomendar ao DER
que tome as providências para limpar a área e iniciar a construção da pista.
Esse
diálogo ocorreu na primeira visita de José Maranhão a Cajazeiras, após assumir
o que sobrou do mandato do ex-governador Cássio Cunha Lima, interrompido por
decisão judicial. A doação de 95% do terreno foi feita pelo médico cajazeirense
José Maria Moreira (foto), radicado em São Paulo. A nesga de terra complementar foi
agregada em seguida, de modo que, às vésperas do São João de 2009, fez-se uma
festa, com palanque e tudo, para simbolizar o início da construção da pista.
Sucateado como estava o DER, foi um Deus nos acuda. O MAC, àquela altura já
criado, passou a acompanhar, semanalmente, o desenrolar dos trabalhos de
nivelamento do terreno: a perfuratriz quebrou, a caçamba está na PB 400, faltou
combustível, a chuva atrapalhou... Deslocar a rede de alta tensão demorou mais
de três meses! Parecia praga de tartaruga!
Aos
trancos e barrancos, contudo, antes de sair do poder, Maranhão deixou concluída
a pista e iniciada a edificação do terminal de passageiros. Desde então,
decorreram mais de 15 meses, intervalo no qual ficou pronta a pequena estação
de passageiros. Faltam, porém, as obras complementares, es- tacionamento, cercar,
iluminação noturna e outros serviços de engenharia, além da regularização de
pendências legais para, finalmente, requerer-se a homologação do Aeroporto
Pedro Moreira. Assim me explicaram.
Hoje
Cajazeiras se sente como o náufrago a olhar a praia, aí bem perto do Palácio da
Redenção. Cajazeiras anda inquieta com a demora das autoridades estaduais em
cuidar de um equipamento importantíssimo para o desenvolvimento do sertão e da
Paraíba. Anda preocupada, temendo que a deterioração dos investimentos
públicos, já realizados, termine por chamar a atenção do Ministério Público.
Preocupada, mas confiante na palavra do governador Ricardo Coutinho, empenhada
e reiterada em audiência ao MAC, em agosto de 2011, e publicamente. Ninguém
gosta da clandestinidade. Cajazeiras quer um aeroporto legal. Homologado pela
ANAC. Só assim, aquela gente espantará a imagem da tartaruga a voar sobre o
Açude Grande.
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