Francisco
Frassales Cartaxo
Este modesto ABC se limita
ao campo eleitoral no Brasil do século 21. Alcança apenas um pedaço mínimo do enorme
espaço de falcatruas. A intenção é tão somente ajudar o leitor a compreender
melhor a realidade política em nosso meio e auxiliar o eleitor a exercer bem,
já este ano, seu direito de cidadão.
Todos os políticos são iguais? Sim, é a resposta mais comum. A surpreendente revelação pública das travessuras do senador Demóstenes Torres (DEM-GO), tido e havido, até o mês passado, como paladino da ética, reforça o sentimento de que todos os políticos são iguais, nivelados por baixo no subsolo movediço da corrupção. Não é bem assim. Há diferenças gritantes entre os políticos, mesmo entre os corruptos, quando nada na gradação, tal qual acontece aos criminosos comuns.
Uns praticam crimes “qualificados”,
em função de circunstâncias agravantes, por isso, a lei atribui penas mais
pesadas aos infratores. E a sociedade os repudia com veemência.
Uso o mesmo princípio
para aplicá-lo à corrupção política. Para simplificar a realidade brasileira, separo
os políticos corruptos em dois grupos básicos: os que usam o “caixa dois”, exclusivamente,
para fins eleitorais e os que usam o “caixa dois”, também, para enriquecimento
pessoal. Separa um bloco do outro o destino dado aos recursos amealhados de forma
suja, quase sempre, provenientes dos cofres públicos. O primeiro grupo aplica o
dinheiro em campanhas políticas. O “caixa dois” ou “recursos não
contabilizados” (eufemismo usado por Delúbio Soares) financiam os “gastos de
campanha”. Esse aspecto da corrupção ganhou destaque na mídia nacional, popularizando-se
com a CPI do mensalão. Tais recursos passam longe das prestações de conta, submetidas
à Justiça Eleitoral pelos partidos e candidatos. Transitam pelo submundo da
política, onde se processa boa parte das relações promiscuas entre homens
públicos e empresários com interesses na gestão financeira pública, no
planejamento e execução de obras e serviços dos governos, não importa qual o
ente da federação: a união, estados e municípios.
As malfeitorias praticadas
pelo grupo do “caixa dois” ligam-se diretamente às características do processo
eleitoral brasileiro contemporâneo, na medida em que induz a realização de despesas
fantásticas para desenvolver as campanhas políticas. O processo eleitoral
moderno exige gastos enormes com pesquisas, abastecimento permanente de
“notícias”, produção do guia eleitoral, transporte de candidatos, mobilização
de eleitores e muitos outros, sempre acima, muito acima daquelas apresentadas à
Justiça Eleitoral. Esta, infelizmente, não dispõe de mecanismos fiscalizadores
eficazes e tempestivos, capazes de identificar e punir quem alimenta o “caixa
dois” e quem dele faz uso corriqueiro. Aliás, dessa praga que infesta o sistema
eleitoral brasileiro poucos escapam. Quase ninguém. Partidos e candidatos. Nem mesmo
postulantes a vereador em Bom Jesus!
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