Por Francisco Sales Cartaxo
Sergipe
tem orgulho do ministro Carlos Ayres Britto. O Nordeste também. Nascido às
margens do rio São Francisco, na cidade de Propriá, ele obteve graduação na
Faculdade Federal de Direito, de Aracaju. Mais tarde, aprimorou seus
conhecimentos jurídicos no privilegiado mundo acadêmico de São Paulo, onde se
fez mestre e doutor, conservando, todavia, seu domicílio em Sergipe, onde foi
professor e advogado com passagem por vários cargos privativos de sua
profissão. Sempre em Sergipe. Quinta-feira, dia 19, Ayres Britto tomou posse na
presidência do Supremo Tribunal Federal, embora permaneça no cargo só até
novembro próximo, quando completa 70 anos e cai na compulsória.
Até
aí, todos sabemos. O que poucos sabem é que seus amigos o queriam prefeito de
Aracaju, em 1985, quando houve a primeira eleição direta, após o longo jejum de
23 anos imposto pelo regime militar aos eleitores das capitais dos estados.
Vivia-se um clima de excitação democrática, causado pela reconquista das
liberdades individuas e coletivas graças à extraordinária mobilização popular,
seguida do grande acordo nacional que levou Tancredo Neves à presidente da
República, via Colégio Eleitoral, um mecanismo engendrado na ditadura para
manter os militares no poder. O ambiente de euforia em 1985 compensava em parte
a profunda frustração provocada pela rejeição ao projeto de lei que restauraria
o voto direto para presidente, como exigia o povo nas ruas, na monumental
campanha das “diretas já”.
Pois
bem, para consolidar os novos partidos, as facções políticas dominantes em
Sergipe se reuniram em torno de duas coligações. De um lado, a Frente
Democrática (PMDB + PFL) e, de outro, a Aliança Democrática (PDS + PTB). À
primeira, juntou-se parte dos agrupamentos clandestinos de resistência à
ditadura (PCB, PC do B, MR 8), mas nem por isso as duas coalizões se
distanciaram do tradicionalismo político-oligárquico sergipano. As duas
coligações polarizaram a disputa eleitoral. Então nada restou fora da
oligarquia e aliados circunstanciais? Para responder, recorro ao historiador
Ibarê Dantas, autor de vários livros acerca da política sergipana. No ensaio
“Eleições em Sergipe: 1985-2000”, referindo-se à disputa pela prefeitura de
Aracaju, diz Ibarê que em julho de 1985 o “PT lançou então o jovem advogado
Marcelo Deda, tendo como vice o professor Luiz Alberto dos Santos. Por outro
lado, um grupo de bacharéis passou a reorganizar o PDT e apoiou o nome do
professor e advogado Carlos Ayres de Brito e para vice o advogado Francisco
Dantas.” E completa mais adiante aquele pesquisador: “O candidato do PDT,
Carlos Brito, embora demonstrasse bom desempenho, inclusive pela vivacidade num
dos debates ocorridos, teve sua candidatura impugnada por irregularidades na
formalização do diretório municipal de Aracaju”.
Assim,
morreu no nascedouro a candidatura do hoje presidente do STF. Teria perdido
Sergipe um político sério, de sólida formação intelectual, ético, corajoso,
inovador? Talvez. A carreira política do advogado Ayres Britto foi meteórica.
Senadores e deputados existem muitos. Poucos, no entanto, ostentam qualidades
de homem público que sobram no ministro Carlos Ayres Britto. Tanto melhor. A
magistratura ganhou um profissional que orgulha Sergipe, o Nordeste e o Brasil.
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