sexta-feira, 20 de abril de 2012

Carlos Ayres Britto queria ser prefeito

Por Francisco Sales Cartaxo
Sergipe tem orgulho do ministro Carlos Ayres Britto. O Nordeste também. Nascido às margens do rio São Francisco, na cidade de Propriá, ele obteve graduação na Faculdade Federal de Direito, de Aracaju. Mais tarde, aprimorou seus conhecimentos jurídicos no privilegiado mundo acadêmico de São Paulo, onde se fez mestre e doutor, conservando, todavia, seu domicílio em Sergipe, onde foi professor e advogado com passagem por vários cargos privativos de sua profissão. Sempre em Sergipe. Quinta-feira, dia 19, Ayres Britto tomou posse na presidência do Supremo Tribunal Federal, embora permaneça no cargo só até novembro próximo, quando completa 70 anos e cai na compulsória.
Até aí, todos sabemos. O que poucos sabem é que seus amigos o queriam prefeito de Aracaju, em 1985, quando houve a primeira eleição direta, após o longo jejum de 23 anos imposto pelo regime militar aos eleitores das capitais dos estados. Vivia-se um clima de excitação democrática, causado pela reconquista das liberdades individuas e coletivas graças à extraordinária mobilização popular, seguida do grande acordo nacional que levou Tancredo Neves à presidente da República, via Colégio Eleitoral, um mecanismo engendrado na ditadura para manter os militares no poder. O ambiente de euforia em 1985 compensava em parte a profunda frustração provocada pela rejeição ao projeto de lei que restauraria o voto direto para presidente, como exigia o povo nas ruas, na monumental campanha das “diretas já”.
Pois bem, para consolidar os novos partidos, as facções políticas dominantes em Sergipe se reuniram em torno de duas coligações. De um lado, a Frente Democrática (PMDB + PFL) e, de outro, a Aliança Democrática (PDS + PTB). À primeira, juntou-se parte dos agrupamentos clandestinos de resistência à ditadura (PCB, PC do B, MR 8), mas nem por isso as duas coalizões se distanciaram do tradicionalismo político-oligárquico sergipano. As duas coligações polarizaram a disputa eleitoral. Então nada restou fora da oligarquia e aliados circunstanciais? Para responder, recorro ao historiador Ibarê Dantas, autor de vários livros acerca da política sergipana. No ensaio “Eleições em Sergipe: 1985-2000”, referindo-se à disputa pela prefeitura de Aracaju, diz Ibarê que em julho de 1985 o “PT lançou então o jovem advogado Marcelo Deda, tendo como vice o professor Luiz Alberto dos Santos. Por outro lado, um grupo de bacharéis passou a reorganizar o PDT e apoiou o nome do professor e advogado Carlos Ayres de Brito e para vice o advogado Francisco Dantas.” E completa mais adiante aquele pesquisador: “O candidato do PDT, Carlos Brito, embora demonstrasse bom desempenho, inclusive pela vivacidade num dos debates ocorridos, teve sua candidatura impugnada por irregularidades na formalização do diretório municipal de Aracaju”.
Assim, morreu no nascedouro a candidatura do hoje presidente do STF. Teria perdido Sergipe um político sério, de sólida formação intelectual, ético, corajoso, inovador? Talvez. A carreira política do advogado Ayres Britto foi meteórica. Senadores e deputados existem muitos. Poucos, no entanto, ostentam qualidades de homem público que sobram no ministro Carlos Ayres Britto. Tanto melhor. A magistratura ganhou um profissional que orgulha Sergipe, o Nordeste e o Brasil.


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