Por Francisco Sales Cartaxo
Nem
todo político corrupto é igual. Existem os piores. Em artigo anterior falei do “caixa
dois” usado para financiar gastos com eleição. Quando ainda era presidente da
República, Lula disse que “caixa dois todo mundo faz”. Ele queria justificar
desvios de companheiros do PT. Talvez a frase tenha sido pronunciada num lapso
de cinismo. Ou de excesso de realismo político. Mas não é dessa espécie de
político corrupto que falo hoje. Falo de um grupo pior ainda: os que fazem da
política um meio de enriquecer. De aumentar o patrimônio pessoal, familiar e
dos amigos. Eles ocupam cargos nos governos municipais, federal e estaduais.
Invadem os poderes da Republica, sempre mancomunados com parceiros em recolher
dinheiro para usar em benefício particular. Propina, tráfico de influência,
troca de favores ilícitos são moedas correntes em suas transações.
A
grana que rola nesses canais da corrupção vem dos cofres públicos. Às vezes, as
tramoias são engendradas antes mesmo dos editais de licitação pública. É comum
editais serem montados nos escritórios das futuras vencedoras da concorrência,
tomada de preço ou outra modalidade prevista na Lei 8.666. Minutas de editais,
aliás, muito bem feitas, são ofertadas a título de colaboração, com cláusulas e
condições emolduradas com o retrato de quem as mandou elaborar. As minutas,
quase perfeitas do ponto de vista formal, saem desse forno. Os custos das obras
e serviços, realizados mais tarde, já embutem os valores a serem rateados ao
longo da cadeia de corrupção. Aí se encontra uma das razões do encarecimento de
tantas obras e serviços públicos.
Esse
tipo de político constitui o pior grupo de corruptos. Governadores, prefeitos,
senadores, deputados, vereadores, juízes, servidores públicos, sempre há os que
entram em algum elo dessa corrente do mal. Eles agem de janeiro a dezembro, sem
descanso. São muitos piores do que os do grupo que utiliza o “caixa dois”,
exclusivamente, para fins eleitorais. Os outros, não. Recorrem a esse artifício
desonesto para aplicar o produto do assalto ao dinheiro público em atividades
privadas, no aumento do patrimônio, na compra de propriedades rurais, de
terrenos urbanos, casas, apartamentos, equipamentos para uso profissional,
veículos, ações, viagens de lazer e um mundo de outras aplicações. Política
para essa gente não passa de negócio. Negócio ilícito. Quando se trata de
deputado ou senador, suas emendas parlamentares pouco têm a ver com
reivindicações coletivas, salvo se lhes rende bon$ fruto$.
E
como pegar esses ladrões? Difícil. O processo mais prático seria começar pelo
exame da evolução patrimonial de quem exibe sinais externos de enriquecimento
ilícito. Em seguida, investigar as causas. Não vale dizer que ganhou na
loteria, como alegou, cinicamente, o “anão do orçamento”, deputado baiano João
Alves. É fácil sugerir, bem sei. Difícil é seguir até o fim porque no meio do
caminho se esconde um parente, um “laranja” que não cai na malha, embora os
ouvidos das esquinas ouçam o que os órgãos investigativos, sérios, gostariam de
saber. E comprovar. É fato, os corruptos não são iguais. Uns são muito piores.
Nenhum comentário:
Postar um comentário