sexta-feira, 20 de maio de 2011

Léo Abreu é um farsante?

GILVAN FREIRE
Em certo sentido da língua portuguesa, ‘farsante’ poderia significar ‘comediante’ ou ‘palhaço’,as duas coisas ficando próximas a ‘ridículo’, ou seja, ‘aquilo que desperta riso ou escárnio’.
 Talvez pudesse ser esse o entendimento da população diante da perplexa renúncia do prefeito de Cajazeiras, um jovem médico talentoso que escolheu a Medicina antes de ser escolhido político e sujeitou-se ao bem ou mal que cada qual poderia lhe fazer.
 Queria certamente ser líder, além de médico, e encantou-se com o levante popular que lhe pedia uma ação esperançosa e renovadora dos costumes locais, que ainda têm resquícios dos tempos de Padre Rolim (1800-1899), o educador que ensinou a Paraíba a ler, como se diz costumeiramente, mas não ensinou a votar.
 ‘Escárnio’, com o sentido de ‘menosprezo’, seria a palavra mais adequada para definir o gesto de Léo Abreu com relação ao povo que o elegeu prefeito possuído de mil e uma esperanças. Se bem que esperança é produto de feira livre no mercado político, vendida a qualquer preço e hora como aquelas bolinhas de sabão que quando as crianças pensam que existem elas se desfazem deixando frustrações.
 ‘Farsante’ tem também outro significado condizente com essa situação esdrúxula que ainda não está explicada – e não sabe ao certo quando o será, porque o povo quando somente conhece a versão dos fatos através dos políticos fica privado de saber a verdadeira.
 ‘Autor de farsa’, ‘impostor’, ‘embusteiro’, que têm o mesmo conteúdo de ‘farsante’, são expressões da ira ou decepção popular que poderiam homenagear Léo Abreu diante da crise de confiança coletiva que gerou em Cajazeiras. Ele não era só prefeito e médico. É jovem, inteligente, bonito e carismático – um Fernando Collor de Mello de melhor padrão moral e ético que não precisava vender o mandato como o Fernandinho vendeu a dignidade do cargo que o povo lhe confiou.
 Léo ainda não se esclareceu e há muito mistério sobre os fatos, o que gera as mais diversas interpretações, nenhuma certamente muito ou pouco lisonjeira ao renunciante. E basta que pertença a essa categoria de homens de poucas virtudes que o povo adora chamá-los de corruptos, para que não consiga ser compreendido. Nem mesmo pelo que poderia eventualmente ser a sua maior e melhor qualidade – a de não aceitar ser desonesto, farsante ou embusteiro compactuando com o cargo e a classe que lhe exigem violação da honra e alienação de princípios individuais morais.
 Imaginemos que Léo Abreu tenha apenas repugnado um ofício que feria permanentemente seus brios de pessoa honrada e jovem idealista, e tenha resolvido o expulsar de si mesmo como quem vomita comida estragada. Se for assim, terá entregue a prefeitura para exercer um tipo de autoridade moral que não depende de mandatos temporários e tem a vitaliciedade das velhas lições do Padre Rolim, que as vezes caem em desuso mas serão sempre lembradas em Cajazeiras. E na Paraíba. Ainda que em vão.
Este artigo integrará o futuro livro:
‘PREVISÕES POLÍTICAS DE UM VIDENTE CEGO’
E-mail: gilvanfreireadv@hotmail.com

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