Por Sabino Rolim Guimarães Filho
O ano era 1995. Conversávamos. Dr. Sabino Guimarães, meu saudoso pai, Frassales, meu tio, escritor regular desta gazeta, e eu. O tema era quem ficaria para sempre na memória de Cajazeiras, nomes que seriam lembrados em ocasiões especiais, como costuma acontecer nas gincanas estudantis, em que grupos de alunos têm como tarefa conseguir algum objeto que faça referência a uma figura histórica da cidade.
Na opinião de meu pai, até aquela época, e acredito que ainda hoje, apenas três nomes se fundiriam ao futuro de Cajazeiras para sempre: o Padre Rolim, indiscutivelmente o grande nome da nossa historia, o poeta Cristiano Cartaxo e o médico Otacílio Jurema. Os dois primeiros, educadores. O ultimo como o político local de maior projeção. Meu pai, inclusive, observou que, para a posteridade, a riqueza material em vida não importava, e citava como exemplo o quase completo esquecimento pela maioria da população das figuras do Comandante Vital e do Coronel Sabino.
Costuma-se dizer que o brasileiro é um povo sem memória. Exageros à parte a afirmação procede. Ao contrario do Europeu, que tudo preserva e faz disso importante fonte de renda, nós não costumamos nem aprender com o passado quanto mais reverenciá-lo. Pode-se até alegar que fomos colonizados por uma nobreza não tão nobre assim, e que falta à nossa historia episódios dos quais pudéssemos nos orgulhar. Se isto é verdade, também é verdade que podemos construir um bom presente, que será no futuro, um passado a ser admirado. Assim podemos parar de colocar a culpa de todas as nossas mazelas nos queridos patrícios lusitanos.
Quando criança, meu avô Cristiano costumava contar um episodio da nossa historia, que culminou com a derrubada da casa de Mãe Aninha, para a construção do Cajazeiras Tênis Clube. Matou-se o berço da cidade para a elite tomar cerveja e jogar baralho, gritava indignado o meu avô, que foi voz isolada em assembléia convocada exclusivamente para decidir o futuro da casa da nossa matriarca. Quando adolescente vi o esforço vão de Dona Ica para salvar a sede da antiga prefeitura de Cajazeiras, substituída por um prédio de arquitetura no mínimo duvidosa. Um pouco mais adiante, vi derrubarem as duas cajazeiras que sobraram da casa de Mãe Aninha para dar lugar a um bar. Mataram o lugar onde em criança tive sombra, e que tanto namorei quando cresci, para colocar duas geladeiras e uma latada de zinco.
Por que toda essa conversa? Esta semana, mais precisamente dia 9 de Fevereiro, se vivo fosse, nosso estimado Dr. Waldemar Pires Ferreira completaria cem anos. Se a sua lembrança ainda esta acesa em muitos que foram tocados por essa genial figura, temo pelo que possa acontecer no futuro. Em vida foi um dos maiores seres humanos que conheci. Colocou seus conhecimentos médicos a serviço de sua comunidade, sem se preocupar com retornos financeiros ou políticos. Em uma época que não havia laboratórios ou raios-x, o Dr. Waldemar, trabalhando no anonimato na maioria das vezes, investia do próprio bolso para disponibilizar estas tecnologias no alto sertão. Não sou biógrafo, e não me atrevo a citar cursos realizados, prêmios obtidos ou cargos ocupados. Gostaria apenas que a nossa historia desse um melhor destino a memória do velho Waldemar, exemplo de humanismo que o fez, mesmo sem freqüentar igrejas, um verdadeiro cristão.
Sabino Rolim Guimarães Filho é médico oftalmologista residente em Campina Grande.
Blog: Coisas de Cajazeiras.
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