sexta-feira, 25 de março de 2011

Ex-mendigo constrói carro com martelo e talhadeira na Paraíba


Orismar de Souza, 35 anos, demorou quatro anos para concluir projeto.
Ele disse que ainda tem sonho de ter um carro de verdade.


Glauco AraújoDo G1, em São Paulo
O ex-mendigo Orismar de Souza, 35 anos, morador de São José de Piranhas (PB), sempre teve o sonho de dirigir um carro. A paixão automobilística surgiu aos 9 anos, quando começou a construir carrinhos com lata de óleo, no sítio onde trabalhavam os pais, produtores rurais em Cajazeiras (PB). Aos 17 anos, ele viu um deficiente físico dirigindo um carro adaptado e teve o seguinte lampejo: "vou construir meu próprio carro". O sonho se tornou realidade em dezembro de 2010, quando ele concluiu o seu atual meio de transporte, o 'camarão móvel'.
Usando apenas uma talhadeira e um martelo, que foram presentes de um vizinho, Souza disse que começou a cortar as primeiras chapas de aço. "Virei piada. Lembro de quando vi um homem montando um portão em uma casa e perguntei onde ele comprava as chapas de aço. Ele riu da minha cara e disse que eu estava louco quando falei que queria construir um carro."
Orismar de Souza disse que passou fome para juntar dinheiro e comprar chapas de aço (Foto: Divulgação/Wagner Batista da Silva/Arquivo Pessoal)Orismar de Souza disse que passou fome para juntar dinheiro e comprar chapas de aço (Foto: Divulgação/Wagner Batista da Silva/Arquivo Pessoal)
Souza contou ao G1 que chegou a passar fome para guardar dinheiro e conseguir comprar o material para a lataria do 'camarão móvel'. "Deixava de comer para juntar todo o dinheiro necessário. Em quatro meses eu juntei R$ 450 e fui até a cidade comprar as chapas. Ninguém acreditava, todo mundo ria de mim. Fui muito humilhado por isso, mas eu venci e construí meu carro, sozinho, com minhas próprias mãos."
Ele disse que a inexperiência em lidar com o aço quase o fez desistir do sonho. "Comecei a cortar o aço com a talhadeira e o aço foi ficando mole, não sabia mexer com isso e me assustei. Depois, quando fui dobrando as peças, ele voltou a ficar rígido. Foi Deus que me ajudou e consegui dar forma ao carro."
A única habilidade que Souza disse ter era lidar com a terra, quando ajudava os pais na roça. "Comecei a fazer miniaturas com o metal das latas de óleo que minha mãe usava em casa. Trocava os carrinhos por galinha, ovo, comida e roupa. Era o jeito que eu conseguia ajudar meus pais. Eu fazia carro de polícia, trator e até picape. Quando meus pais viram aquilo, até compraram uma latinha de tinta para eu pintá-los."
Orismar usou peças de vários carros para concluir seu projeto automobilístico (Foto: Divulgação/Wagner Batista da Silva/Arquivo Pessoal)Orismar usou peças de vários carros para concluir seu projeto automobilístico (Foto: Divulgação/Wagner Batista da Silva/Arquivo Pessoal)
Para construir o 'camarão móvel', Souza disse que pedia muitas peças nas oficinas da região e também pegava tudo que era descartado no lixo. "Peguei um motor de motocicleta, de 125 cc, para mover o carro. Antes, a ligação era feita com pedal, igual ao de moto, na parte traseira. Agora, em dezembro, consegui fazer a ignição com chave e também coloquei câmbio com ré."
Souza disse que o 'camarão móvel' chega até 80 km/h na rodovia de asfalto. "Na cidade e no barro eu ando devagar, não passo dos 40km/h. Cabe duas pessoas, mas não tenho namorada. Quando ando na rua é aquela festa, porque muita gente me admira e acaba tirando foto."
Apesar de ter conseguido construir seu próprio carro, o ex-mendigo, que faz bicos de faxineiro e cortador de cana, disse que espera um dia arrumar uma garagem fixa para seu 'camarão móvel'. "Na verdade, na verdade, ainda sonho em ter um carro direitinho, com placa, documento e tudo, além de um lugar para guardá-lo com segurança."
Carro foi construído durante quatro anos em São José de Piranhas (PB) e roda com motor de motocicleta 125 cc (Foto: Divulgação/Wagner Batista da Silva/Arquivo Pessoal)Carro foi construído durante quatro anos em São José de Piranhas (PB) e roda com motor de motocicleta 125 cc (Foto: Divulgação/Wagner Batista da Silva/Arquivo Pessoal)

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