Alfredo Ricardo do Nascimento, bem conhecido no meio musical como Zé do Norte, nasceu na cidade de Cajazeiras, Paraíba, em 18 de dezembro de 1908 e faleceu no Rio de Janeiro, em 02 de outubro de 1979. Foi um artista autodidata de origem humilde. A sua infância no interior paraibano ficou bem marcada em sua memória, quando ainda criança para sobreviver à dura realidade de sua época, pegou no pesado, trabalhou com sua família desde os nove anos arrastando o cabo de uma enxada na limpeza das roças. Depois foi catador de algodão e almocreve pelos sertões da Paraíba, Pernambuco, Ceará, Rio Grande do Norte, Piauí e na cidade de Codó no Estado do Maranhão. Perdeu os pais aos 11 anos de idade, indo morar com um tio. Dois anos depois fugiu de casa, devido um desentendimento que culminou com uma briga. Foi cantor, compositor, poeta, escritor e folclorista. Nunca estudou música, mas desde pequeno admirava e gostava de acompanhar os cantadores de viola, chegando a viajar três a quatro léguas para assistir as cantorias.
Na sua cidade natal, foi funcionário da limpeza do antigo Colégio Salesiano Padre Rolim, hoje Colégio Diocesano de Cajazeiras, onde mesmo propondo a direção daquele estabelecimento de ensino, trabalhar de graça para poder estudar, não foi aceito por que, conforme lembra, o então diretor daquele estabelecimento de ensino o informou que "aquele era um colégio exclusivo para pessoas de família".
“No Colégio Salesiano, minha função era varrer, limpar tudo. Mesmo assim, o Padre Gervásio Queiroga, Diretor na época, não quis me dar oportunidade. Pelo contrario, me discriminou, dizendo que estudar ali era pra menino rico. Fiquei muito triste, pois queria apenas estudar, como pagamento pelo meu trabalho”. Disse (amargurado) o compositor.
Sem não ter encontrado chances de obter educação formal, em 1921, aos 18 anos, saiu de Cajazeiras praticamente analfabeto com destino a Fortaleza-Ceará, para alistar-se no exército brasileiro. De lá foi para o Rio de Janeiro em 1926, onde acabou indo servir no I Regimento de Infantaria da Vila Militar. Depois se formou em Enfermagem.
No Rio, Zé do Norte surge no panorama musical quando foi descoberto por Rubens de Assis e pelo dramaturgo Juraci Camargo, ao saber através de amigos, da embolada “Errou o Tiro”, convidou o artista para atuar em um show na Feira de Amostra do Rio de Janeiro.
Zé do Norte, que no evento trabalhava como fiscal da feira, cantou para uma platéia de 20 mil pessoas, que vibraram pedindo para que o mesmo repetisse diversas vezes à embolada “Errou o Tiro”, obtendo grande sucesso e agradando o público carioca e aos artistas presentes, chegando até receber um cachê pela apresentação.
Depois de mostrar seu talento na Feira de Amostras, em 1939, o artista que era conhecido como João Joca - seu primeiro nome artístico, acabou sendo levado por Lacy Martins, para a Rádio Tupi. Depois foi convidado pelos diretores para integrar o cast daquela rádio, onde mais tarde passou a apresentar o programa “Noite da Roça”, que foi responsável pelo lançamento de diversos artistas e no qual se apresentaram, entre outros, a dupla sertaneja Alvarenga e Ranchinho e Luz “Lua” Gonzaga, este ainda em começo de carreira. Um ano depois, em 1941, foi para a Rádio Transmissora Brasileira (atual Rádio Globo) onde participou dos programas, “Desligue, Faz Favor” e “Hora Sertaneja”.
Ao lado de outros iniciantes da música nordestina, Zé do Norte viu surgir a grande oportunidade de afirmação de seu talento, tendo nesse período de 1928 e até o final da década de 50 tido intensa participação na difusão da cultura e do cantar nordestino na antiga capital federal.
Zé do Norte só voltou a sua terra em 15 de setembro de 1985, quase 60 anos depois, para ser homenageado como patrono do IX Festival de Arte da Paraíba, que naquele ano era realizado em Cajazeiras. Quase desapercebido, em função do evento ter sido realizado três meses antes das comemorações natalinas.
Durante a semana do festival algumas atividades foram feitas na cidade para marcar aquela que seria a data de 90 anos de Alfredo Ricardo do Nascimento e a comemoração do seu retorno a cajazeiras. Para os que acompanharam a programação do evento, uma pergunta carregada de curiosidade calou a boca de muita gente. Quem seria ele? Mesmo que dissessem se tratar de Zé do Norte, outros tantos perguntariam, quem é, que importância ele teria para receber tal honraria?
“Ser chamada a Cajazeiras como patrono do IX Festival de Arte da Paraíba é a maior alegria de toda a minha vida. Quando recebi a notícia, passei uma meia hora sentado. Sem sequer conseguir me levantar de tanta emoção. Pensei até que o coração fosse parar, principalmente por me encontrar convalescendo de uma efisema recente.” Afirmou o compositor.
Na sua minúscula produção literária, porém grande na importância que foi no conjunto para a contribuição do conhecimento da música e da cultura regional nordestina. Zé no Norte deixou três livros publicados. O primeiro, lançado em 1948, no Rio de Janeiro pela Asa Artes Gráfica, com o título Brasil Sertanejo, traz em seu conteúdo, histórias, curiosidades, cantigas, mentiras e anedotas, poemas e dialeto do universo cultural do sertão do nordeste. O segundo foi “O lobisomem de Cajazeiras", que na época não passou pelo crivo oficial dos conselhos editoriais vigentes livro esse que segundo comentários feitos na imprensa carioca, teria sido plagiado em textos teatrais e novelas de TV, com nome de outros autores. O livro só foi editado em 1985, no Rio, juntamente com o terceiro livro, “Memórias de Zé do Norte”, trabalho biográfico que fala de suas memórias no rádio e na música brasileira. Quando era perguntado sobre a imitação do seu romance “Lobisomem de Cajazeiras” em produções de teatro e televisão (como foi o caso da novela Saramandaia e a mini-série O Bem Amado - Rede Globo), ele sempre foi cauteloso na resposta, não preferindo afirmar nada, mas também não desmentia. Dizia apenas que um dia a verdade chegaria à tona.
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