Do Livro "Do Bico de Pena à Urna Eletrônica. "Páginas: 343-345
Em artigo anterior, mostrei que na eleição de 1982 o PDS teve os três candidatos a deputado estadual mais bem votados em Cajazeiras: Antônio Quirino, Bosco Barreto e José Lacerda. Juntos eles somaram 12.586 votos, isto é, 66% da votação do total apurado naquele ano. Os candidatos a deputado estadual do PMDB de Cajazeiras tiveram juntos, 1.800 votos, nessa ordem: José Leite (786 votos), Tarcizo Telino (708) e José Aldemir (306). O desequilíbrio foi gritante, como já comentei várias vezes, em função do forte poder do PDS, da migração da maior liderança oposicionista de então, e também, da obrigatoriedade de votar num único partido.
A pulverização de votos em dezenas de candidatos ocorreu em 1982. É fenômeno antigo, portanto. Setenta e seis candidatos a deputado estadual receberam sufrágios em Cajazeiras. Isso mesmo, setenta e seis! Da região concorreram nove candidatos (os seis já citados e mais José Dantas Pinheiro, Francisco Ferreira e José Andriola). Eles somaram 14.842 votos, ou seja, 785 do eleitorado votante, que foi de 18.955, naquele ano. O restante entrou para o habitual pinga-pinga.
De todos eles (afora Zé Lacerda que sempre se reelege), apenas Antônio Quirino teve sucesso. Ampliou sua votação, beneficiada pela ascensão de Edme Tavares à câmara federal e a prestígio que o exercício do primeiro mandato lhe deu, ainda que na condição de terceiro suplente do PDS.
Bosco Barreto selou seu declínio político em 1982. Sua meteórica carreira teve início dez anos antes, quando postulou a prefeitura, no embalo da batalha judicial que levou à inelegibilidade o então candidato da ARENA, Higino Pires Ferreira. Gineto foi substituído na chapa governista pelo advogado Quirino de Moura. Venceu Quirino, contudo, Bosco quase empatado com ele. Corre até que os votos mergulhados nas urnas lhe teriam sido favoráveis, mas por misteriosos caminho emergiram nos mapas com sinais trocados. Lenda, dizem uns. Melhor para Cajazeiras, recordam outros, aduzindo que a prefeitura nas mãos de Bosco teria sido uma tragédia.
Em 1974, Bosco é eleito deputado estadual e exerceu, com a irreverência de estilo, seu único mandato eletivo. Como deputado, em 1978, tentou a prefeitura, com Acácio Braga Rolim em sublegenda. Dois anos após, disputou o senado na sublegenda de Humberto Lucena (MDB). Obteve em Cajazeiras 5.732 votos, contra 7.547 dados a Ivan Bichara Sobreira.
Ivan acabara de sair do governo, marcado para a derrota.
Por quê? Porque houve forte cisão na ARENA provocada pela escolha de Tarcísio Burity para governador da Paraíba. O então deputado arenista Antônio Mariz decidiu disputar com Burity no colégio eleitoral. Conduta rebelde reprovada pelos militares. Um escândalo. O processo culminou com tumultuada eleição, indireta, de acordo com a regras do regime militar. Mariz, perdeu, mas saiu da refrega como liderança popular de dimensão estadual. Carregado de mágoas, comandou a dissidência que terminou por dar a vitória a Humberto Lucena. Lances significativos deste pedaço da história política da Paraíba estão em meu livro Política nos Currais, escrito no calor do resultado da eleição de 1978.
Bosco Barreto discursando, ao seu lado Edme Tavares e Epitácio Leite Rolim |
A eleição de 1982 marcou a ascensão de Edme Tavares à Brasília, onde exerceu, oito anos seguidos, o mandato de deputado federal. Selou, também, a decadência política de Bosco Barreto que, ao tornar-se governista, virou peixe fora d’água.
Olha, sem dúvida nenhuma, Bosco foi o vencedor na disputa contra Quirino. Aquela eleição foi uma fraude provocada pelos poderosos da cidade que não permitia de forma nenhuma a vitória de um político humilde, de esquerda a prefeitura da cidade. Os poderosos, todo mundo sabe que eram, quem foi e que é ainda hoje. Os que acham que a cidade é deles. E assim, fez da cidade um curral e dos eleitores, pobres subservientes.
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