segunda-feira, 29 de agosto de 2011




Leia a entrevista completa:
DIÁRIO DO SERTÃO: O senhor começou como vereador aqui em Cajazeiras. Como foi a sua trajetória política?
Chico Rolim: Primeiro fui vereador eleito em 1959, na época a Câmara só tinha nove vereadores e os vereadores todos queriam que eu fosse presidente. O primeiro mandato eu cedi para um amigo, no segundo fui presidente, no terceiro também, no quarto mandato eu já tinha me comprometido com uns amigos que ia ser candidato a prefeito de Cajazeiras do ano seguinte, ou seja, de 1964. Então no dia 30 de dezembro eu fui conversar com o prefeito para saber quem seria seu candidato para a câmara, pois havia sido eleito deputado, naturalmente iria assumir em João Pessoa e no mês de janeiro o presidente seria o presidente da câmara. Ele me disse que o candidato seria eu. Eu respondi que não poderia ser candidato porque tinha falado com os amigos que iria ser candidato a prefeito no próximo ano e se eu fosse candidato a presidente da câmara, o prefeito iria entregar a prefeitura e eu seria prefeito, mas não poderia ser candidato no próximo ano.
Ele me disse que eu não poderia deixar de ser prefeito um ano de graça para ser candidato a prefeito. Eu disse que já tinha prometido aos amigos que seria candidato. Ele me disse que só tinha eu ou Nonato Braga que se fosse eleito ele entregaria a prefeitura.
O meu companheiro quis aceitar, mas, não deu certo e o candidato a presidência da câmara acabou sendo Vicente Leite, irmão de Dr. Epitácio Leite e o prefeito Otacílio assumiu o cargo de deputado, pediu licença e veio tirar o resto do mandato, assim nenhum vereador foi prefeito. Otacílio me disse que não entregaria a prefeitura a nenhum dos vereadores, a não ser eu ou Nonato Braga e cumpriu.
Então eu fiquei fora e cuidando já da minha campanha. Uma coisa interessante é que quando eu assumi a prefeitura em 1962 a minha preocupação foi criar companhia de água e esgoto de Cajazeiras e a companhia telefônica, e deixei criadas. Só que em novembro de 1964 era a festa de 100 anos de Cajazeiras. A festa na verdade deveria ter sido feita em 1963, mas o prefeito Otacílio não pode fazer e os amigos então insistiram para que eu fizesse naquele ano a festa do centenário de Cajazeiras, e foi feita.
Então, no primeiro ano logo inauguramos o abastecimento de água em Cajazeiras, energia de Paulo Afonso e o telefone. Aí começou minha história política como prefeito. Quando estávamos trabalhando para a usina de Paulo Afonso me passaram um telegrama, dizendo que ia ser inaugurada dia 14 de novembro às 16 horas, mas eu não coloquei o telegrama na programação da festa, porque podia ser que eles falhassem, mas, eles cumpriram.
  
DIÁRIO DO SERTÃO: As campanhas naquela época já eram acirradas?
Chico Rolim: Olha, as campanhas naquele tempo eram muito importantes, eram animadas, fazia-se muita festa, muita passeata. O povo amanhecia o dia nas ruas passeando, não tinha proibições, nem hora para parar. E eu tinha muita gente, desculpa a falta de modéstia, então o povo acompanhava, era aquela grande festa. Naquele tempo, todos os candidatos a prefeito ou vereador tinham que visitar todas as casas, todas as ruas da cidade, conversar com todo mundo.
Eu quando candidato a vereador em 1959, passei na primeira casa foi tudo bem. Na segunda também, na terceira explodiu uma mulher lá de dentro e disse: “Diabo, deixe eu trabalhar!” Nesse tempo eu tinha uma fábrica de confecções popular, tinha 107 mulheres trabalhando, na cidade e na zona rural. Então ela quando foi chegando disse assim: “Ah seu Chico, Me desculpe!”. Eu disse que ela havia me feito um grande favor, pois eu não ia mais sair pedindo em canto nenhum, mesmo assim, a minha votação deu pra eleger eu e mais dois vereadores.
DIÁRIO DO SERTÃO: O senhor conseguiu vários benefícios para Cajazeiras e o asfaltamento foi um deles. Como o senhor conseguiu esse importante projeto?
Chico Rolim: Eu assumi a prefeitura no dia 1° de fevereiro de 1977, isso o terceiro mandato. No dia 15 de fevereiro eu fui para Recife para procurar uma forma de fazer convênio para construir casas populares para os pobres de Cajazeiras. Chegando lá, o gerente do BNH tinha trabalhado muitos anos no Banco do Brasil em Cajazeiras e era casado com uma moça daqui. Ele me ajudou e disse que o que eu queria não tinha lá, mas me apresentou o projeto Cura. Mas, quando eu cheguei em Cajazeiras, eu não tinha nenhum vereador, foram seis anos com 11 vereadores contra, daí porquê o Cura foi difícil de trabalhar.
Um ano depois, no dia 15 de fevereiro de 1978 o Cura foi aprovado, pois a essa altura eu já tinha conseguido cinco vereadores, faltava um. Tinha o Batistinha que era do hospital e ele me disse que votava a favor, então eu consegui aprovar. Então só para aprovar foi um ano. Agora, no BNH, Na Caene, companhia de água e esgoto da SUDENE, todo mundo dizia: “Cajazeiras será uma das melhores cidades do Nordeste”. Só que não me deixara fazer, eu não apliquei nenhum terço do projeto, o projeto 270 mil peseis, nós só aplicamos e assim asfaltamos a cidade quase toda. Fiz outras obras, como creche, posto policial e uma série de coisas mais. Veja bem, vai completar trinta anos e muito do asfalto ainda está em plenas condições.
DIÁRIO DO SERTÃO: Cajazeiras tem se consolidado como pólo educacional. Qual a sua contribuição para que isso acontecesse?
Chico Rolim: Quando eu fui prefeito, construí 14 grupos escolares, inclusive tem um grupo escolar que eu construí sem nenhuma ajuda federal ou estadual, tudo com o pouco dinheiro da prefeitura, pois o pouco dinheiro bem aplicado rende muito, ao contrário do muito que mal aplicado não vale nada.
Eu recebi dinheiro do governo federal para construir uma escola na zona rural, lá onde eu fui construir eu fiz todo o material, fiz tijolo, telha, só não a madeira que tive de comprar. Com o dinheiro eu fiz dois grupos escolares. E isso já no fim do mandato, terminou o mandato eu fui embora, no dia 27 de fevereiro de 1979. Quando eu viajei, veio um negócio do Ministério da Educação pedindo a Epitácio, que era o prefeito, para mandar as notas fiscais do material do grupo escolar. Epitácio mandou me chamar e eu disse que fiz foi dois. Não tinha nota do material, pois era artesanal, mas mandamos as fotos e no fim foi tudo aprovado.
DIÁRIO DO SERTÃO: Como começou a história da implantação da Universidade Federal aqui?
Chico Rolim: A Universidade Federal da Paraíba comprou o prédio do colégio Padre Rolim, mas tinha que passar por uma eleição do Conselho da igreja, eram sete padres que precisavam votar e na hora só votaram três a favor, quatro votaram contra, aí ficou desfeito o negócio.
Mas, antes de o reitor saber do resultado, eu ia passando em frente à ação católica, hoje a Nona Regional de Educação, Padre Gualberto de saudosa memória deu com a mão e disse que queria marcar uma audiência comigo, e eu disse que podia ser agora, então ele contou a história e perguntou o q eu podia fazer. Eu disse que podia comprar o terreno para construir a universidade. Nessa mesma tarde fomos visitar terrenos e falei com o reitor que era melhor um terreno limpo, que fazia mais com menos dinheiro e disse que doava o terreno. Fui até o Rio Grande do Norte, comprei o terreno por 540 mil reais e foi tudo feito sem nenhuma divulgação para que as outras cidades não quisessem a universidade também.
Veio uma comitiva do Tribunal de Contas da União para fiscalizar a Prefeitura de Cajazeiras, passaram uns quatro ou cinco dias e eu não ia pra prefeitura quando tinha esse tipo de gente porque podia alguém pensar que eu ia suborná-los e nunca foi do meu feitio fazer isso. Eles foram na minha casa e me deram parabéns, disseram que tava tudo certo na minha prefeitura, mas que não podiam aprovar minhas contas pois eu tinha feito uma coisa contra lei, que foi comprar um terreno para a Universidade. E por causa disso eles passaram mais de dois anos para aprovarem minhas contas, mas no fim deu tudo certo.
  
DIÁRIO DO SERTÃO: Conte um pouco sobre a história do colégio Estadual de Cajazeiras.
Chico Rolim: O governador Pedro Gondim pediu uma área de três mil metros quadrados para construir o colégio Estadual, eu comprei dez mil. Quando chegou a planta do colégio, tinha cinco salas de aula e eu achava pouco. Fui até João Pessoa e me disseram que eu não podia mudar, pois o colégio era padrão em todo o estado. Fui ao governador e ele disse que em Cajazeiras eu podia fazer do jeito que quisesse. Quando o colégio foi para inaugurar, o governador era João Agripino e meu mandato havia há pouco acabado, então foi colocada uma placa só com o nome de João Agripino e nós não pudemos fazer nada.
Antes disso o secretário havia pedido para eu levar nove nomes para ensinar no colégio Estadual, só nomes com cursos superiores. Eu levei e ele assinou a procuração para funcionar o colégio.
DIÁRIO DO SERTÃO: Em uma das rádios de Cajazeiras foi feito uma enquete onde o senhor foi eleito o pai de Cajazeiras e Carlos Antonio o padrasto. O que o senhor achou dessa resposta do povo?
Chico Rolim: Interessante, já vou fazer noventa tinha que ser o pai mesmo, ele é muito novo ainda, então é o padrasto, né? Foi o que disseram... Eu não posso dizer nada porque sou suspeito pra falar a respeito do assunto.
DIÁRIO DO SERTÃO: Tem algum benefício que o senhor gostaria de ter trago para Cajazeiras e não deu tempo?
Chico Rolim: Eu gostaria de ter asfaltado ou pelo menos calçado toda a cidade. Até hoje eu tenho muito desgosto por não ter aplicado o projeto Cura em toda Cajazeiras. Eu cheguei a falar com o presidente Castelo por quatro vezes e seis vezes com o velho Juarez Távora para pedir pelo ramal da linha do trem.
DIÁRIO DO SERTÃO: Qual a mensagem que o senhor deixa para o povo de Cajazeiras nestes 148 anos?
Chico Rolim: Desejo que Cajazeiras continue crescendo muito e que toda a população viva sempre bem, com o apoio dos governos estadual e federal.


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