terça-feira, 28 de janeiro de 2014

Diocese de Cajazeiras e a UFCG

Por Francisco Frassales Cartaxo

   Seria bom que este ano alunos e professores do campus da UFCG coloquem seus conhecimentos a serviço da história da centenária diocese de Cajazeiras. Ali, ao lado das Casas Populares, há um centro de saber acadêmico, formado a expensas de recursos públicos, com professores capazes de mergulhar no passado e enxergar facetas difíceis de serem captadas por simples curiosos. Não se trata apenas de questão de conhecimento, do domínio de teorias ou de técnicas de investigação. Isto é pré-requisito. Impõe-se algo mais, por exemplo, a vontade de utilizar os fundamentos científicos, as ferramentas de pesquisas inerentes às ciências sociais, em particular à história, para apreender as peculiaridades locais, situando-as em contexto amplo, regional e nacional. Obras fundamentais para entender o Brasil estão cheias de citações de estudos específicos de caráter sub-regional e local, sem os quais a interpretação do mundo real se resumiria ao acúmulo de conhecimentos, muitas vezes, produzidos lá fora, sem o devido cuidado em operar a necessária redução sociológica.
   Espero que o campus tenha adquirido ultimamente mais abertura para as questões locais. Em 2006, quando recorri ao saber acadêmico de nossa Universidade em busca de luzes para clarear a história política de Cajazeiras, constatei existir certa má vontade com as coisas do sertão. É claro que encontrei boa vontade e apoio para troca de ideias com professores amigos. O foco do meu estudo era história política, do qual resultou modesta contribuição divulgada no livro “Do bico de pena à urna eletrônica”.  Mesmo sem calibre teórico, eu tentava incursão no patrimonialismo, desejoso de fornecer exemplos concretos de sua prática em Cajazeiras. Em contato com respeitado professor, situado no topo da carreira docente, doutor que é, fui surpreendido com sua concepção do papel da academia em lugares como Cajazeiras. Disse-me mais ou menos isto:
“Dessas coisas de política local eu não cuido. Minha função é outra, é transmitir aos alunos conceitos básicos, teóricos, princípios etc. E isso você pode ler nos meus textos preparados para os estudantes. Os textos estão disponíveis, ali.”
Disse enquanto apontava o dedo para a barraca da Xerox. Adquiri-os. Mais tarde mergulhei na leitura da sua apostilha. Na segunda página, não pude segurar o bocejo, tantas eram a citações entre aspas. Uma atrás da outra. Dezenas de conceitos de autores de todas as partes do mundo. Nada contra. Mas aquilo não me seduzia. Talvez comova o coitado do aluno, obrigado a fazer prova... Eu procurava algo mais simples, menos distante, um link entre o saber acadêmico e a realidade histórica local.
Ao recordar esse fato, penso que fui exigente, desfocado da rotina da academia. Enfim, devo ser um cara chato... O episódio, de sete anos atrás, provocou em mim a estranha sensação de que importa mais empurrar nos alunos, goela abaixo, o produto da assimilação de conhecimentos obtidos nos cursos de mestrado, doutorado, pós-doutorado, ministrados em grandes centros do saber acadêmico. E só. Aplicá-los à vida local seria tarefa subalterna? Confundida, talvez, no caso específico dos estudos de história política de Cajazeiras, com algo desprezível ou passível de contaminar a pureza do saber acadêmico. Espero estar enganado e que o centenário da diocese seja iluminado com as luzes do campus da UFCG.


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