por Francisco Frassales Cartaxo
A
vitória torna a ressaca azul, embora verde tenha sido a bandeira de campanha.
Feridas expostas no calor da refrega saram rápido, as contas a pagar, reais e
emocionais, são liquidáveis com dinheiro, posições no governo e gestos de
amizade. Portanto, não incomodam muito quando se vence. Os 17.884 votos do
número 25, confirmados na urna eletrônica, e transferidos por força de renúncia
formal de última hora para o número 40, são a base da dívida maior contraída
pela prefeita Denise Albuquerque. Está em casa. O número 40 pertence ao PSB, o
partido que mais cresceu no Brasil nesta eleição. Assim, parece que tudo são
flores para o vencedor, aliás, a vencedora. Até a ressaca da festa da vitória
não gera dor de cabeça...
A
ressaca braba, contudo, virá mais adiante, quando os graves problemas do
município forem colocados diante da doutora Denise a exigir-lhe decisões
políticas e administrativas, algumas urgentes, talvez sem tempo sequer de
consultas demoradas ao maior responsável pela sua eleição.
Nem é
preciso lembrar que a responsabilidade legal cabe a quem senta na cadeira de
prefeito. E será ela e não ele quem responderá pelo rumo, acertado ou
desastrado, que vier a imprimir a sua gestão. A propósito, pelo histórico
recente de desmandos éticos da administração pública municipal em Cajazeiras,
por mais fidelidade que Denise tenha ao sentimento da gratidão, o melhor a
fazer é seguir com espírito crítico os conselhos de quem anda atormentado por
uma permanente dor de cabeça. Não a passageira dor de cabeça derivada da
ressaca eleitoral, mas aquela dor de cabeça persistente, causada pelo manuseio
nada republicano de recursos públicos, em ações que levaram a Justiça a
enquadrar seu autor em crimes dolosos de improbidade administrativa, praticados
no exercício do mandato de prefeito. A doutora Denise sabe, e sabe muito bem, a
significação dos reflexos traumáticos desse tipo de dor de cabeça. Por isso,
ela deve extrair dessa cruel realidade política e pessoal lições exemplares
extremamente úteis a sua gestão na prefeitura.
Há
outro ponto relevante. O Brasil começa a mudar, a viver um novo tempo político,
com perspectiva de alterações reais na maneira de gerir a coisa pública.
Primeiro, a Lei da Ficha Limpa é para valer. Levada a sério pelo Poder
Judiciário, não teve o destino das “leis que não pegam”, como muita gente
sonhava. A lei pegou. E caiu sobre Cajazeiras como um raio, tanto que nosso
destino está confiado a uma mulher e não a um ex-prefeito, vítima de suas próprias
travessuras. Segundo, não é por mera coincidência que se aplica com rigor a Lei
da Ficha Limpa no exato momento em que o Supremo Tribunal Federal, em
julgamento transmitido ao vivo pela televisão, condena por corrupção (ativa e
passiva, peculato, lavagem de dinheiro) empresários, servidores públicos e
políticos da expressão nacional de José Dirceu, Roberto Jefferson, José
Genuíno, todos envolvidos no esquema do mensalão.
Não preciso alertar
doutora Denise. Ela já conhece, sobejamente, por dolorosa experiência política
e pessoal, vivida na condição de esposa, terríveis angústias tornadas públicas.
Por isso, Denise não pode deixar de considerar essa nova realidade política,
tê-la sempre presente ao comandar a prefeitura de Cajazeiras, até porque lhe
serão cobradas com veemência pela sociedade decisões sintonizadas com esse novo
tempo, embora que de suas determinações possam resultar sangramentos a seu
redor.
Nenhum comentário:
Postar um comentário