Nonato Guedes, jornalista
É
incrível como até colegas de imprensa, que adoram falar sobre tudo e sobre
todas as coisas, estejam a brandir o tacape contra a jornalista Pâmela Bório,
esposa do governador Ricardo Coutinho, pelo fato de que ela utiliza as redes
sociais para expressar opiniões, até sobre a gestão do marido. Abomino a
censura às livres manifestações por convicção e prática. Sou remanescente de
uma fase de resistência à ditadura militar, às vezes recorrendo a metáforas em
emissoras de rádio de Cajazeiras ou em jornal mimeografado, como a “Tribuna
Popular”.
Nonato Guedes com o amigo Valiomar |
Renuncio num sonho de um governo ditatorial que nunca se realizou |
Nunca neguei espaço para defesa de quem se sentiu criticado em colunas sem que tivesse exposto a sua versão. Abri páginas no jornal “A União”, como superintendente, para o artigo de um jornalismo famoso, que eu contratara, e questionara abertamente a linha de abertura (não digo de independência) que busquei imprimir. O autor do comentário foi quem passou mal e pediu o boné. Apenas assisti à cena. Relembramos este fato esta semana, eu e Fernando Moura, superintendente atual de “A União” e participante da geração que, sob meu comando, produziu edições antológicas de puro jornalismo e um livro sobre 0s 30 anos do golpe de 64 que repousa, entre outras instituições, numa renomada Universidade dos Estados Unidos.
É
currículo suficiente para me dar ao direito de pedir que evitem patrulhar a
primeira dama Pâmela Bório pelo que ela diz, ou expressa. É uma visão machista
dos que se dizem liberais mas preferem ver a mulher na cozinha, enquanto ele
debulha teses aparentemente avançadas. Convivi com primeiras damas desde 1978,
quando desembarquei em João Pessoa, cada uma com seu estilo. Não sei de nenhuma
que tenha criado vexames. Lúcia Braga entrou para a política porque estava no
sangue e, obviamente, pela convivência com Wilson. Glauce Burity nunca deixou
de emitir uma opinião, ainda que ela contrariasse auxiliares do ex-governador
Tarcísio ou eventuais aliados políticos. Sílvia Cunha Lima sempre foi discreta
por opção própria. Glória Cunha Lima, idem. A desembargadora Fátima Bezerra é
educada o bastante para separar sua atividade profissional da convivência com o
ex-governador Maranhão. No caso de Glauce, ela externava opiniões em círculos
restritos. Depois que ganhou voo por mérito indiscutível, sentiu-se liberada
para polemizar. Lauremília, mulher do senador e ex-governador Cícero Lucena,
foi vice-governadora na gestão Cássio I e ativista política na periferia da
capital. As mulheres enfrentaram séculos de opressão e subordinação até que
cansaram e decidiram ir para o “front”. Isto é positivo, não fosse o fato de
que elas já mandam, mesmo, em casa, como dizemos nós, os maridos.
Pâmela
Bório tem um temperamento forte e, certamente, faz suas escolhas. Fazer
escolhas significa contrariar interesses. Ela é poderosa, mas antes disso é bem
articulada. Fala porque prefere não ficar omissa, remoendo mágoas, em temas
polêmicos. Faz muito bem. Não é necessário concordar com ela, ou com o governo
do marido. Mas é fundamental respeitá-la. Não é ventríloqua do governador, que
em certas ocasiões deve discordar das opiniões que ela emite. Ser patrulhada é
que ela não deve ser. Poucos perceberam, mas a democracia, hoje, está
disponível para todos e todas. Como é que vítimas da censura se arvoram o múnus
de cercear sua liberdade de expressão? Se há igualdade no acesso à comunicação,
porquê silenciar? Tem sentido exigir que uma pessoa pública fique algemada em
torres de marfim quando a Cidadania lhe assegura a faculdade de “parlar”? Acho
que Pâmela Bório oferece uma saudável contribuição ao exercício do
contraditório.
Que bom que todas as primeiras-damas fizessem o mesmo. Da parte dos jornalistas, é o que afirmei certa vez: adoramos ser estilingues; vidraça, nunca. Queremos ter o privilégio de derrubar castelos do poder, mas nos incomodamos quando outras pessoas entram no clube das discussões sem precisar pedir licença. Não há mais muro de Berlim nem arquipélago Gulag. Há janelas que se abrem para o contraste, tornando a paisagem mais rica porque multifacetada. Deixem Pâmela falar...
Que bom que todas as primeiras-damas fizessem o mesmo. Da parte dos jornalistas, é o que afirmei certa vez: adoramos ser estilingues; vidraça, nunca. Queremos ter o privilégio de derrubar castelos do poder, mas nos incomodamos quando outras pessoas entram no clube das discussões sem precisar pedir licença. Não há mais muro de Berlim nem arquipélago Gulag. Há janelas que se abrem para o contraste, tornando a paisagem mais rica porque multifacetada. Deixem Pâmela falar...
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