Falem-me de Pombal!
Digam-me das suas ruas antigas, da feira nos sábados com os cordelistas do Pavão Misterioso e Lampião no inferno.
Falem-me do banho no rio, do violão de Bideca, da cachaça gostosa, do futebol nos bancos de areia. Da bolacha peteca na padaria de seu Napoleão.
Digam que a rua é estreita, porém, mais estreita é a saudade que aperta o meu coração.
As sombras das ingazeiras, o arrubacão.
Falem-me das suas ladeiras, dos seus loucos, filósofos de boas lições, dos sãos a procura do sossego nas som- bras das alga- robas.
Falem-me do Bar Morcego.
Dos desocupados nas imediações do Mercado Público. Ainda põem ali o cartaz do Cine Lux ?
Assistam um jogo do São Cristóvão por mim.
Digam à Cícero de Bembém que
Digam à Cícero de Bembém que
Roubem goiaba e manga na roça de Mila. Deixem rolar os dados de Zé Paletó.
Acompanhem por mim a procissão que serpenteia pelo chão nos dando a opor- tunidade de um perdão.
Os fiéis ainda ajoelham aos pés de Nossa Senhora do Rosário, pedindo a
Os fiéis ainda ajoelham aos pés de Nossa Senhora do Rosário, pedindo a
Beijem por mim as contas do seu rosário e digam que é por estas contas que suporto o meu calvário e nelas eu conto e não perco a conta dos dias que faltam para a gente se encontrar.
Aplaudam a Rainha da Irmandade...
Digam para sua ma- jestade que seu súdito não pôde vir, mas continua fiel,
Digam para sua ma- jestade que seu súdito não pôde vir, mas continua fiel,
Untem minha ca- beça na água benta da pia batismal da Matriz.
Digam aos Pontões que eu aprendi a- queles passos, digam aos Congos que re- sistam por nós.
Digam ao Reisado que ofereço minha casa neste outubro, dêem a honra desse humilde súdito receber na sua cabana tão majestosa presença palaciana.
Colham por mim, estrelas na boca da noite, digam que é para amenizar a minha solidão.
Mandem-me uns postais com vista parcial do avelozsão, num dia de decisão.
Quero assistir uma peleja da janela da Escola Normal na arbitragem de Ribinha.
Os homens de chapéu as mulheres de sombrinhas e o tempo passando por nós.
O grupo João da Mata. O bloco de sujos batendo lata pelas ruas de Pombal.
Digam que escuto apitos do trem "Asa Branca" numa estação onde passageiros apressados não se conhecem mais.
Alguém fale-me de Pombal.
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