É lugar-comum dizer que Padre Rolim foi o primeiro escritor de Cajazeiras. Sim, o foi, mas inicialmente sem livros. Tinha-os escrito, só que por muito tempo não os teve impressos. Estudioso dos bons, deixou para a posteridade livros importantes para o conhecimento do sertão e do Nordeste. O problema é que, num tempo mais árido que este, o padre-mestre publicou suas obras com dificuldade.
Poetas, como o Cristiano Cartaxo, da esquecida lira dos sonetos de A Musa Quase Toda, fizeram o eco de sua poesia em jornais e revistas, tendo que esperar muito até publicar. Demoraram a ver em livro seus versos. Assim aconteceu com Irismar di Lira, Constantino Cartaxo, Linaldo Guedes.
Outros, após a aventura das obras que os revelaram, fizeram-se bissextos. É o caso do então iniciante Paulo Jacob, que publicou um livro e em seguida quedou-se na academia e na escola, perdendo o usufruto da veia poética. Antes dele, os irmãos Oliveira. Outrora os jovens talentos Linaldo e Lenilson imprimiram livros nas antigas tipografias cajazeirenses, anônimos, às vezes, entregando a um e outro a sua obra. Muitos dos livros que deram ao público foram produzidos artesanalmente, rodados que eram nas primeiras impressoras de pontilhado a existir na cidade.
No tempo da maioria desses autores, a tecnologia das oficinas gráficas, se comparada à atual, era quadrada. As máquinas rodavam a lenha. Também não havia os concursos literários, tampouco os incentivos do poder público. O primeiro autor cajazeirense a ter o privilégio de ser publicado com dinheiro público, pelo menos que eu tenho notícias, foi Paulo Jacob. Era aluno do curso de Letras e fui convidado para prefaciar seu livro Balaio de sentidos. Nunca esqueci o convite. Tive ali mais uma chance de exercitar a veia crítica que gosto em literatura. Nesse tempo surgiam os fundos culturais de incentivo à cultura. Era a boa vontade do poder público em dar ao autor popular voz e vez em meio a uma indústria cultural excludente e injusta.
Depois, da mesma forma, outros livros foram publicados em Cajazeiras, inclusive o meu, que foi parte apoiado pelo governo. E agora mesmo, como se vê, está mais fácil publicar. É mais barato, mais possível. O sujeito chega a uma gráfica em Cajazeiras e a gráfica é uma editora. Pode não ter o dinheiro todo, mas levando um bocado, outra parte acerta quando o livro estiver pronto. E se tiver bom produto, pode concorrer aos concursos, aos prêmios, aos incentivos governamentais.
Isso é bom? Se é! Quem tiver um livrinho de qualidade pode arregaçar as mangas desde já. As oportunidades tornam possível o sonho de quem deseja publicar. Tenho o exemplo da cajazeirense Amanda K., que aparece com seu primeiro livro publicado por uma boa editora, a gráfica das impressões do jornal A União. Ela é ganhadora de um concurso do Governo do Estado, que, além de publicar seu livro, lhe dará bom prêmio em dinheiro. Sobre Amanda e seu livro falarei em breve. Dia 23 a obra será lançada em João Pessoa.
Devem novos valores terem do poder público a mesma atenção. Quiçá será um cabra lá de Cachoeira dos Índios, de São José de Piranhas, de Santa Helena. Seus prefeitos podem contribuir com os autores locais. Incentivar a pesquisa sobre a história da cidade, sobre mil coisas, dar à luz um talento ainda não conhecido. Que tal dar às cidades livros de autores locais? É uma boa ideia. Será mais que preciso nesses tempos em que tão pouco se lê.
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