Por Francisco Frassales Cartaxo
A força do povo vem das ruas. No dia 20 de junho eu vi multidão de jo-vens nas ruas de Cajazeiras. Em cima de um carro de som um rapaz e uma moça animavam quem chegava à concentração na Praça das Oiticicas. Era o começo de um dia que ficará na história. Na mesma hora, em centenas de cidades brasileiras, milhares de pessoas também demonstravam sua indignação com o descaso de gestores públicos, incapazes de dar solução a problemas cruciais do dia a dia da população. Rápidos para construir arenas de futebol, eles são lentos, quase parando, para concluir obras como a da transposição das águas do São Francisco.
- Quem é esse menino?
Perguntei apontando o ga-roto do carro de som. Ninguém soube me infor-mar. E a guria? Um professor u-niversitário me disse que o ra-paz era aluno do curso de história na UFCG. Poucos sabiam seu nome. Nem precisava. Faz parte do novo tempo. O protesto, por sinal, marca outra diferença fantástica em confronto com as tradicionais passeatas da política velha. Nestas um profissional do microfone deixa escorrer pelo canto da boca um líquido pegajoso, a esgoelar-se mais ou menos assim: Registramos a presença do deputado fulano, do ex-prefeito sicrano, da prefeita beltrana, dos vereadores etc. etc. Nada disso se ouviu. Nem poderia. Eles, os políticos carcomidos, estão noutra. Por isso, os babões também não apareceram na caminhada do protesto. Os poucos, contavam-se nos dedos da mão... Em seu lugar eu vi cidadãos. Cidadãs e cidadãos jovens, aplaudidos com entusiasmo por onde passavam.
Universitários e secundaristas formavam uma corrente de 3.000 jovens. Tão jovens que, no dia seguinte, um radialista afeito à velha política do pastoril (cordão azul versus cordão encarnado) desdenhou: “eu quero ver é na hora do voto”. O colega berrou sua descrença: “não vai resolver nada”. Coitados! Não enxergam além do próprio nariz. Aliás, em perfeita sintonia com seus chefes... Com os chefes do pastoril partidário. Distantes do sentimento das ruas, eles, os chefes e asseclas, bem que tentaram enviesar o movimento generoso dos jovens cajazeirenses com palavras de ordem da velha política. Quiseram apequenar a mobilização infiltrando questões do quintal político de Cajazeiras. Quebraram a cara. O coletivo os barrou.
A polícia só acompanha respeitosamente |
O Brasil vive um mo-mento político novo. Para onde vamos? Nin-guém sabe ain-da. Mas o povo nas ruas já produziu efei-tos concretos. Forçou a baixa nas tarifas dos transportes pú-blicos. A presidente Dilma, meio zonza com o barulho das ruas, alinhavou às pressas um pacote, tão às pressas que 48 horas depois voltou atrás. O Congresso Nacional derrubou a PEC 37, tornou hediondo o crime de corrupção. O STF mandou para a cadeia um deputado corrupto, coisa que não fazia há décadas. Tudo isso em poucos dias! O medo obra milagre. Então, está tudo dominado? Nem pensar. Além dos vândalos, muitos espinhos encontrará o povo nas ruas.
A luta vai prosseguir cada vez mais organizada, com pauta centrada em grandes eixos. O combate à corrupção e à impunidade. O eixo da melhoria na qualidade dos serviços públicos: transporte coletivo, ensino público e prestação de saúde. O eixo da boa gestão pública, punindo administradores públicos desonestos e relapsos. O eixo do basta de violência! O eixo da reforma política visando aperfeiçoar os mecanismos eleitorais e partidários, e faça cumprir com rigor a Lei da Ficha Limpa.
Eis aí uma amostra da pauta de ação. A velha política que se cuide. Não se brinca com o povo quando ele descobre sua força.
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