Por Francisco Frassales Cartaxo
Volto a falar do crescimento urbano de Cajazeiras, agora para reforçar o que afirmei, semana passada, acerca da velocidade da ocupação do solo, graças a extraordinária proliferação de loteamentos, a construção de casas e edifícios. É espantoso verificar a rápida incorporação à cidade de propriedades rurais, como o sítio Serraria dos saudosos irmãos João e Moisés Braga, hoje com boa parcela das terras transformada em ruas. Estima-se que existem em Cajazeiras atualmente mais de 9.000 lotes distribuídos em cerca de 20 loteamentos. Na zona norte acha-se quase metade dos lotes, incluindo os do loteamento situado além do campus da UFCG, lançado este mês pelo ex-prefeito Zerinho.
A zona sul, por sua vez, concentra o maior número de casas em construções nas duas margens da BR 230. Ali existe um enorme empreendimento imobiliário de quase 3.000 lotes, parte dos quais com dezenas residências já em fase final de acabamento, onde até pouco tempo as terras eram ocupadas no inverno com lavouras de milho e feijão. Na saída para Sousa, outros tantos loteamentos oferecem oportunidades de investimento, aquém e além do riacho Curicaca, que já avançam até a Fazenda Bagaceira, cuja casa grande fora outrora refúgio eventual para descanso do empresário Clóvis Rolim, em suas raras vindas de Fortaleza.
Como arranjar pedreiro para tantas obras? Convoca-se o “meia colher”, me disseram dois engenheiros do ramo da construção civil. O “meia colher” é o servente, ajudante ou auxiliar de pedreiro que, bem ou mal, já está familiarizado com a profissão, pois se encarrega de preparar a massa, dar o traço, manejando o instrumento de trabalho do mestre de obra, a colher de pedreiro. São eles, os “meia colher”, que estão resolvendo um dos problemas causados pela explosão imobiliária: a falta de mão de obra especializada. Ora, o aproveitamento do “meia colher” como pedreiro exige o mínimo de tempo, a um custo ínfimo para o setor, mas para ele representa mudança de status profissional, ao propiciar-lhe ascensão no nível de renda e na escala social. Não tem sido, portanto, muito difícil arregimentar trabalhadores para a construção civil.
Difícil, quase impossível, no entanto, é o poder público municipal assumir seu papel de zelar pela expansão decente da cidade, evitando os transtornos e vícios urbanos que predominam atualmente, que fazem de Cajazeiras uma cidade próxima ao caos urbano, embora sua população, segundo o IBGE, não chegue a 60.000 habitantes. Difícil, quase impossível, é a sociedade cajazeirense acordar para a tarefa de, pelo menos, saber como está sendo definido o seu futuro. Saber como estão sendo estruturados os novos loteamentos, a largura de ruas e calçadas, se estão prevendo as reservas de espaços públicos de mobilidade e lazer, de áreas para praças, parques ou até mesmo para atividades comerciais. E se estão cuidando da preservação de cursos naturais de drenagem de águas pluviais. Vi com meus próprios olhos áreas com essas características serem aterrados para dar lugar a novas edificações, ao arrepio do Código de Obras.
Diante dessa preocupante realidade e da frustrada tentativa de ordenamento do caos urbano, iniciada e logo interrompida no curto governo Léo Abreu, tenho fortes dúvidas quanto à qualidade de vida na nova Cajazeiras. As perspectivas são sombrias. E pior ainda, temas como este passam longe da agenda dos candidatos a prefeito e vereador, sob o olhar indiferente da sociedade. Uma lástima para uma cidade que busca afirmar-se com centro regional de ensino universitário.
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