Por Inácio Andrade Torres - inaciotorres@netlinepb.com.br
Nascemos
na mesma cidade: Patos da Paraíba. Ele na zona rural, eu na urbana. Moramos no
mesmo bairro: Santo Antônio. Ele, na rua do poeta maior, Augusto dos Anjos; e
eu, na rua do apóstolo do Brasil, Padre Anchieta. Estudamos, embora em épocas
diferentes, no mesmo colégio, o Diocesano de Patos, do tempo do Monsenhor
Vieira. É que, quando nasci, ele já tinha 25 anos e já era um pregador criativo
e iluminado. Hoje soube de sua partida para o alto do céu. E, num instante
veio-me à memória algumas boas lembranças e saudades do tempo de
criança/adolescência vivenciado na minha terra natal
Velório do Padre Levi |
Pe.
Levi estudou no Colégio Diocesano de Patos, na época em que o Monsenhor Viera
era diretor. Em seguida, no Seminário Arquidiocesano da Paraíba e
posteriormente em Roma, na Itália. A sua ordenação diaconal acontecera em 1954
e a presbiteral no dia 17 de dezembro de 1955. S. Alexandrino não queria que o
jovem Levi fosse padre e, por essa razão, passara quatro anos sem falar com o
filho.
Como
se vê, desde jovem o Padre Levi tinha convicção e consciência em suas escolhas,
pois, se já é difícil fazer-se uma escolha profissional, imaginemos a
sacerdotal, sobretudo sem o apoio paterno.
Ele
era um precursor, um homem de vanguarda. Exemplifiquemos com uma atitude de
pioneirismo desse padre: a construção da Igreja Santo Antônio, na cidade de
Patos, cujos azulejos da parte externa representam o Antigo Testamento e da
parte interna o Novo, fazendo-a praticamente a única no mundo com esse estilo e
uma das mais belas do Brasil. Para construção dessa igreja, o Pe. Levi
mobilizou, além de sua família e dos paroquianos, alguns políticos. Sua mãe
doou o terreno; Janduí Carneiro, Rui Carneiro e Bivar Olinto as imagens de
Santo Antônio e de Santa Quitéria; os azulejos foram doados pelos paroquianos;
e os trinta e três anjos com lâmpadas que ficam sobre o teto da igreja, os
vitrais, a cobertura de madeirites e alumínio e as roseiras, trazidas de São
Paulo foram ofertadas pelo Pe. Levi. Ele construiu também o cemitério Santo
Antônio que favoreceu muito as comunidades dos bairros Jatobá e Monte Castelo.
Muito
criativo, o Pe. Levi instituiu em Patos uma série de inovações que conquistava
o povo, dentre essas podem ser citadas a procissão dos homens durante a Semana
Santa e a paixão de Cristo encenada no pátio da igreja. Sob sua coordenação as
missões de Frei Damião atraiam milhares de pessoas. A sua homilia curta e
direta, numa linguagem simples e objetiva, cativava o povo. Tinha conhecimento
de hipnose e era profundo estudioso das obras de Santo Agostinho e São Tomaz de
Aquino. A sua fala em seus programas de rádio (em Cajazeiras pela Alto Piranhas
e em Patos pela Espinharas, só para citar duas emissoras) animavam as pessoas e
levantavam a autoestima.
Pe.
Levi foi vigário das paróquias de Pombal, Malta, Coremas, Boqueirão dos Cochos,
Jericó, Bom Sucesso, São José de Espinharas e, em Patos, das paróquias de Santo
Antônio, Nossa Senhora da Guia e São Sebastião. Na política foi prefeito da
cidade de São José do Bonfim e Deputado estadual. Foi também presidente do
Esporte Clube de Patos.
Adeus Padre Levi! |
“A
guerra entre os dois padres” – narra Padre Paulo – “encrenca política entre os
padres não é de hoje. Quando Pe. Levi decidiu disputar a deputação estadual,
recebeu pesada oposição do seu colega Pe. Noronha, que era muito conservador.
Certo dia, Pe. Levi convocou uma passeata com as mulheres de Patos, pedindo que
fossem todas de calça comprida, porque poderia dar uma ventania e levantar seus
vestidos.
O Pe.
Noronha ficou injuriado, e disparou no sermão dominical: “O Pe. Levi, apesar de
pastor da Igreja de Deus, não tem vergonha. Esta história de passeata de mulher
com calça comprida é somente para ver o tamanho do cachorro de vocês, viu?”.
Nossas
condolências aos familiares de Pe. Levi e que ele tenha um descanso em paz.
Guardemos vivos na memória e em nossos corações a sua lembrança.
Créditos de Ângelo Lima (Diário do Sertão)
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