Leo Caldas/EXAME.com
Natal, RN - Há pouco menos de duas décadas, o plano de carreira de boa parte dos profissionais que se formavam nas universidades do Nordeste envolvia se mudar para outra região.
Entre os anos 40 e 90, as secas, a falta de políticas públicas eficientes para o desenvolvimento local e as notícias recorrentes enviadas por parentes sobre a oferta farta de empregos no Sudeste e no Sul faziam com que milhões de pessoas se deslocassem em direção às fábricas do ABC paulista, de Minas Gerais e do Rio de Janeiro.
O resultado foram décadas de perda de capital humano. Em linhas gerais, esse foi o panorama com o qual headhunters e estudiosos do mercado de trabalho se depararam até o começo dos anos 2000, quando a situação econômica do Nordeste começou a mudar, graças
a programas sociais e à ascensão da nova classe média brasileira.
a programas sociais e à ascensão da nova classe média brasileira.
"Nada menos do que 60 milhões de pessoas tornaram-se consumidores em potencial de bens e serviços", diz Francisco Carlos Carvalho de Melo, professor do Departamento de Economia da Universidade Estadual do Rio Grande do Norte (UERN), em Mossoró.
"Esse poder de compra atraiu indústrias de todos os tipos para a região, gerando um ciclo de riqueza sem precedentes, inclusive em cidades que estão longe do litoral e fora da área de influência das capitais", diz.
Na prática, a região é a que mais cresce no país. Segundo o Banco Central, de 2012 a 2013, o PIB do Nordeste cresceu 4,3%, ante a média de 2,3% no resto do Brasil. No primeiro trimestre deste ano, o Nordeste também saiu na frente. Enquanto o país avançou 1,05% na comparação com o último trimestre do ano passado, a região cresceu o dobro, 2,05%.
De acordo com o último levantamento do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho, dentre os 17 estados brasileiros onde houve aumento de emprego em maio, o Piauí foi, disparado, o campeão nacional. Foram criadas 2 231 novas vagas — o equivalente a 0,83% de crescimento, enquanto a média do país foi de 0,18%.
Essa mudança de perspectiva vem impactando o mercado de trabalho e transformando o Nordeste— tradicional exportador de mão de obra — em um grande polo de atração de trabalhadores.
"Muita gente continua vindo de outras regiões, atraída principalmente pela qualidade de vida, e os salários dos executivos já se aproximam dos pagos no Sudeste", afirma Jorge Abrantes, responsável pelo escritório de Recife da Asap, uma das maiores consultorias de recrutamento e seleção de executivos do Brasil.
"A demanda por gerentes, diretores da área comercial e engenheiros, entre outros cargos, está em alta neste momento", diz Marcelo Peixoto, diretor regional da Asap e responsável pelas operações no Norte e no Nordeste.
"Há vagas principalmente em montadoras, refinarias, estaleiros, siderúrgicas, mineradoras, empreiteiras, shopping centers, empresas de cosméticos, agências de propaganda e na crescente indústria de energia eólica", diz Peixoto.
Confira, a seguir, onde estão as melhores oportunidades na região.
Indústria naval
A Bahia foi o endereço escolhido para a instalação da nova unidade de negócios do Estaleiro Enseada do Paraguaçu. A estrutura de 1,6 milhão de metros quadrados está sendo construída no município de Maragogipe, a 42 quilômetros de Salvador, com previsão de conclusão em 2014.
No local, serão desenvolvidos projetos complexos de engenharia naval e o processamento de até 36.000 toneladas de aço por ano. Fruto de um investimento privado de 2,6 bilhões de reais, o complexo vai gerar 3.000 empregos diretos e 10.000 indiretos, estimulando o desenvolvimento de uma ampla cadeia de fornecedores.
O projeto da empresa é privilegiar a mão de obra local para promover um novo ciclo de desenvolvimento no Recôncavo Baiano.
Vagas na Zara brasileira
O grupo têxtil potiguar Guararapes, dono da rede de 178 lojas Riachuelo, se prepara para abrir uma nova fábrica de jeans no Ceará, o que aumentará de 7.000 para 8.000 o número de funcionários em Fortaleza.
A nova unidade faz parte dos planos dos empresários Flávio e Nevaldo Rocha — únicos empresários brasileiros do setor na lista de bilionários da revista Forbes — de duplicar a capacidade de produção da maior empresa do ramo têxtil e de confecções da América Latina até 2017.
Para atingir esse objetivo, também serão contratadas empresas de facção do Rio Grande do Norte, de modo a interiorizar o processo
industrial. Atualmente, apenas 35% das roupas vendidas pelo grupo são produzidas no Brasil. Num fórum empresarial realizado em junho em Natal, Flávio Rocha anunciou que 60 novas lojas serão abertas até a conclusão do plano de expansão, totalizando quase 250
unidades.
industrial. Atualmente, apenas 35% das roupas vendidas pelo grupo são produzidas no Brasil. Num fórum empresarial realizado em junho em Natal, Flávio Rocha anunciou que 60 novas lojas serão abertas até a conclusão do plano de expansão, totalizando quase 250
unidades.
A ideia é reproduzir o modelo de sucesso da espanhola Zara, líder mundial do comércio varejista de roupas. “Nossa ideia é criar uma Galícia brasileira aqui no Rio Grande do Norte e, com isso, fazer com que 80% de nossa produção saia daqui”, destacou o presidente da rede Riachuelo. Os planos ambiciosos da empresa devem gerar oportunidades para gerentes de lojas, gerentes industriais e profissionais de logística.
Mineração e oportunidades
No Rio Grande do Norte, a empresa australiana Crusader assinou um termo de cooperação com o governo do estado no ano passado e está em fase de obtenção de licenças ambientais e de realização de audiências públicas para explorar uma mina de ouro no município de Currais Novos, na divisa com a Paraíba, a partir de 2015.
O investimento estimado entre a fase de construção (com previsão de criação de 2.000 empregos temporários) e exploração (outros 300 postos de trabalho) é de 400 milhões de reais. Geólogos e geofísicos terão boas oportunidades.
Motores aquecidos
Segundo a consultoria Asap, o setor que mais contratou no Nordeste no primeiro semestre de 2013 foi o automotivo. Uma das empresas que puxam essa tendência é a Fiat, que Até 2017, a indústria automotiva vai criar pelo menos 25.000 vagas em estados como Pernambuco e Bahia começou a erguer em 2011 um novo polo na cidade de Goiana, em Pernambuco, a 70 quilômetros de Recife.
Até entrar em funcionamento, no início do ano que vem, a fábrica deve contratar cerca de 4.500 colaboradores entre engenheiros, técnicos de diversas áreas e operários. A capacidade de produção da Fiat em Pernambuco será de 250.000 unidades por ano. A Bahia, outro endereço das vagas geradas pela indústria automotiva, também é destaque regional.
Camaçari vai receber, até o fim deste ano, uma fábrica da chinesa JAC Motors. O investimento de 900 milhões de reais deve criar 3.500 empregos diretos e 10.000 indiretos. Outro gigante chinês que vai se instalar na Bahia é a Foton Motors, a maior fabricante de caminhões do mundo. A fábrica ficará pronta em 2017 e vai gerar 1.000 empregos diretos e 6.000 indiretos.
Engenheiros eletricistas, mecânicos, de produção e de segurança do trabalho devem ser requisitados para preencher as posições geradas pela indústria automotiva.
Crescimento forte como aço
O Ceará foi o endereço escolhido em 2011 para a instalação da Companhia Siderúrgica do Pecém (CSP), fruto de uma sociedade entre as sul-coreanas Posco — maior grupo siderúrgico da Coreia do Sul — e Dongkuk Steel, e a brasileira Vale. Quando entrar em funcionamento, em 2015, estima-se o que o complexo produzirá 3 milhões de toneladas de placas de aço por ano.
Durante a fase de construção, 23.000 empregos diretos e indiretos devem ser criados. Outros 14.000 serão abertos quando a CSP entrar em operação. Engenheiros e técnicos de nível médio em mecânica e metalurgia estão no topo da lista dos profissionais mais requisitados.
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