sábado, 27 de fevereiro de 2016

A MOÇA MAIS BONITA

A MOÇA MAIS BONITA
Do livro Do Miolo do Sertão
A História de Chico Rolim contada a Sebastião Moreira Duarte

pag. 89 a 91


Quando eu vi esta moça no casamento de Valdemar, no Melão, procurei dentro de mim onde já nos havíamos encontrado. Uma voz interior me falava que nós já nos tínhamos nos avistado antes, em algum lugar. E, sim, foi no Umari, no balcão da loja do Umari, que os nossos olhos se cruzaram pela primeira vez. Não sei por que ela visitava a vilazinha, nem posso dizer se foi aquele o olhar da primeira sedução. Uma coisa, porém, se ligou de logo à outra. No entra-e-sai dos afazeres preparatórios para a celebração nupcial e para os comes-e-bebes da festa a seguir, eu me censurava  por não identificar, à primeira vista, quem era aquela moça, bonita como quê!, a me cativar a atenção. E por que ela estava ali, na casa de minha mãe, íntima da família? Ah. Era irmã da minha noiva, a minha cunhada. Mas eu creio que, também nessa segunda vez, não tivemos temo um para o outro, o que é de lamentar.
Eis-me agora em Cajazeiras, em casa do meu irmão, morando com minha cunhada. Deus, que sempre faz as coisas certas e, afinal, é quem determina o roteiro da nossa de nossa existência pelo mundo, coloca-me de novo diante da moça. Com freqüência estamos os dois na mesma casa, ela visitando a irmão, eu hospedado com o meu irmão. Sentamo-nos os dois à mesma mesa e, desta vez, trocamos olhares que se encontram e se entendem. Chico e Teresa são que se pronunciam cada vez mais juntos. Teresa Augusta irá se chamar Tereza Augusta Rolim. O enxoval vai se aprontando. O velho Augusto Bernardino, que, além de meu sogro, vai se tornar um grande amigo e colaborador, também se esmera o quanto pode para conferir ao evento o toque da solenidade mais inesquecível. Mais uma vez o sítio Arara se movimenta para uma festa de se guardar na memória. Augusto Bernardino não deixa por menos. Na catedral da diocese de Cajazeiras, o Padre Linhares nos une pelo sagrado vínculo do matrimônio até que a morte nos separe. É o dia 31 de dezembro de 1950, assim escolhido também para nos abrir  para a mínima lua de mel, pois, a mim, já me esperavam tarefas inadiáveis do comércio e, à minha Teresa, a luta doméstica na casa nova que adquiri à Rua Siqueira Campos, também ela pintada na mais vida cor de tijolo queimado.
Última foto de mamãe com toda a família (1988). Em pé:
à esquerda a filha caçula Anacélia, no meio: a mais velha:
Anacleide e à direita: eu. Sentado: papai.

Muita coisa ou quase tudo desde então devo a Teresa, minha mulher, sustentáculo nas decisões mais duras e bálsamo para as dores e feridas inafastáveis. Sobretudo, devo a alegria de nonimar os filhos Anacleide, Claudiomar e Anacélia, que hoje vão premiando a nossa união com a presença sorridente dos netos. Ao lado deles, já celebramos as nossas bodas de prata matrimoniais e nos preparamos para fechar a casa dos quarenta anos de enlace matrimoniais e nos preparamos para fechar a casa dos quarentas anos de enlace amoroso, perante Deus e os homens. Os nossos retratos jovens na parede, gravados pelas mão mágica de Nogueira – esse mestre da arte fotográfica de que se orgulha a Cajazeiras de tantos mestres – continuam um diante do outro, em eterna atitude de namoro, confirmando que é assim a nossa vida e que a mim me coube a melhor parte dos Bernardino, a moça mais bonita, a amiga mais generosa, a irmã, a filha, a mãe mais dedicada.
Essas memórias são o que são porque, privilegiado, eu tenho Teresa Augusta Rolim a meu lado, segurando-me a mão, que Deus nos abençoe.

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