Em
1975 foi publicada a primeira edição do Novo Dicionário da Língua
Portuguesa, de autoria de Aurélio Buarque de Holanda Ferreira. Foi, e
continua sendo fenômeno editorial brasileiro. Só não vendeu mais que a
bíblia, no Brasil.
Bem,
Cajazeiras poderia ter um colaborador para esse fenômeno editorial,
tendo em vista que ele era um apaixonado por palavras. Apaixonado ao
ponto de ser um exibidor de vocabulário escorreito, digo: apurado. Suas
palavras eram pronunciadas ao sabor da prolixidade, digo: muito longo,
ou difuso.
Não,
o nosso personagem amante da língua pátria não era escritor, não era
jornalista, não era intelectual, no sentido lato, digo: amplo, da
palavra, não freqüentava as rodas literárias de Cajazeiras, não tinha
liame, digo: ligação, com a nata, digo: o que há de melhor, da
intelectualidade cajazeirense contemporânea, digo: que vive na mesma
época.
A
vaidade e a erudição, digo: instrução vasta e variada, de nosso
personagem, com certeza se renderia aos apelos e a ovação, digo:
aplausos ou honras entusiásticas, de entrar para a Academia Cajazeirense
de Letras, se assim houvesse.
Sua
sapiência, digo: sabedoria divina, encantava e admirava a todos. A
todos que se rendiam a seu estilo loquaz, digo: palavroso, verboso.
Essa
figura impoluta, digo: pura, virtuosa, não tinha escritório de
advocacia para verbalizar data vênia, digo: expressão respeitosa com que
se principia uma argumentação, e logorréias, digo: hábito de falar com
excesso.
Talvez
nossa figura em destaque fosse o precursor, digo: que precede, da
criação genial do dramaturgo Dias Gomes, Odorico Paraguassu. O linguajar
rebuscado, digo: requintando, era sua marca registrada.
Afinal,
se ele não estava numa banca de advocacia, onde ele estaria então?
Estava ele num banco. Não, não era no Banco do Brasil. O seu banco, era o
banco onde ele estava sentado vendendo tudo que uma budega sortida
tinha para atender sua clientela. Sentado em seu banco, atendia a todos.
Aos matutos, que se lhe rendiam basbaque, digo: que fica pasmo diante
de tudo, e os urbanos de Cajazeiras.
Sua
budega era bem provida, bem arrumada, bem limpa, de balcão bem
organizado, distante dos balcões de outras budegas que serviam pinga em
balcões sujos e imundos devido as goipadas dos pinguços dadas ao seu pé
em louvor à dose do santo.
Sempre
com seu dicionário apostos em sua mesinha de trabalho, onde ficava a
gaveta do caixa, ali lia e relia (percebi o cacófato, digo: som
destoante) as páginas de seu dicionário, de onde sairiam suas palavras
difíceis arremessadas aos fregueses.
Se
lhe perguntassem: - “Tem palito de dente?”, ele responderia: - “Você,
nobre freguês, está a procura de pequenos gravetos propícios à extração
de restos alimentares pós refeições?”. E se procurassem por rapadura,
teriam como resposta: - “Meu caro freguês, você está solicitando um
retângulo sólido, de doce natural, extraído da planta da família das
gramíneas, processado via mecanismo laboral artesanal?”. Um rapaz queria
sal de cozinha, e ele respondia: - “O jovem imberbe está a requisitar
cloreto de sódio, cristalino, branco, usado na alimentação?”
Em
conversas com pessoas, se lhe contestassem o sentido de uma palavra,
era o mesmo que chamá-lo para a briga, não a briga braçal, mas o acinte,
digo: a provocação, em desmoralizá-lo em sua verborragia, digo: grande
abundância de palavras, mas com poucas idéias, no falar ou discutir.
Por
todo seu esforço em querer falar difícil e bonito, conquistando a
admiração principalmente dos matutos, ele é considerado o homem mais
sabido de Cajazeiras. Nem que seja nas mesas de bares e esquinas onde a
galhofa e o palavrório é a tônica.
Seu nome é: Zecão.
Eduardo Pereira do Blog AC2B
E-mail: dudaleu1@gmail.com