domingo, 29 de abril de 2012

Cajazeiras dá o último adeus ao padre Levi; Mutidão participou do funeral do sacerdote

Por Inácio Andrade Torres - inaciotorres@netlinepb.com.br
Inácio Andrade Torres
Autoestima - uma leitura saudável para começar bem o seu dia!

Nascemos na mesma cidade: Patos da Paraíba. Ele na zona rural, eu na urbana. Moramos no mesmo bairro: Santo Antônio. Ele, na rua do poeta maior, Augusto dos Anjos; e eu, na rua do apóstolo do Brasil, Padre Anchieta. Estudamos, embora em épocas diferentes, no mesmo colégio, o Diocesano de Patos, do tempo do Monsenhor Vieira. É que, quando nasci, ele já tinha 25 anos e já era um pregador criativo e iluminado. Hoje soube de sua partida para o alto do céu. E, num instante veio-me à memória algumas boas lembranças e saudades do tempo de criança/adolescência vivenciado na minha terra natal

Velório do Padre Levi
Refiro-me ao Padre Levi Rodrigues de Oliveira, nosso Pe. Levi, um verdadeiro sertanejo, homem corajoso, inteligente e talentoso, nascido na fazenda Santa Tereza, no município de Patos da Paraíba, no dia 07 de dezembro de 1926. Era filho de S. Alexandrino Rodrigues e de D. Mariana, casal que concebeu vinte e um filhos e ainda adotou outros dez.

Pe. Levi estudou no Colégio Diocesano de Patos, na época em que o Monsenhor Viera era diretor. Em seguida, no Seminário Arquidiocesano da Paraíba e posteriormente em Roma, na Itália. A sua ordenação diaconal acontecera em 1954 e a presbiteral no dia 17 de dezembro de 1955. S. Alexandrino não queria que o jovem Levi fosse padre e, por essa razão, passara quatro anos sem falar com o filho.

Como se vê, desde jovem o Padre Levi tinha convicção e consciência em suas escolhas, pois, se já é difícil fazer-se uma escolha profissional, imaginemos a sacerdotal, sobretudo sem o apoio paterno.

Ele era um precursor, um homem de vanguarda. Exemplifiquemos com uma atitude de pioneirismo desse padre: a construção da Igreja Santo Antônio, na cidade de Patos, cujos azulejos da parte externa representam o Antigo Testamento e da parte interna o Novo, fazendo-a praticamente a única no mundo com esse estilo e uma das mais belas do Brasil. Para construção dessa igreja, o Pe. Levi mobilizou, além de sua família e dos paroquianos, alguns políticos. Sua mãe doou o terreno; Janduí Carneiro, Rui Carneiro e Bivar Olinto as imagens de Santo Antônio e de Santa Quitéria; os azulejos foram doados pelos paroquianos; e os trinta e três anjos com lâmpadas que ficam sobre o teto da igreja, os vitrais, a cobertura de madeirites e alumínio e as roseiras, trazidas de São Paulo foram ofertadas pelo Pe. Levi. Ele construiu também o cemitério Santo Antônio que favoreceu muito as comunidades dos bairros Jatobá e Monte Castelo.

Muito criativo, o Pe. Levi instituiu em Patos uma série de inovações que conquistava o povo, dentre essas podem ser citadas a procissão dos homens durante a Semana Santa e a paixão de Cristo encenada no pátio da igreja. Sob sua coordenação as missões de Frei Damião atraiam milhares de pessoas. A sua homilia curta e direta, numa linguagem simples e objetiva, cativava o povo. Tinha conhecimento de hipnose e era profundo estudioso das obras de Santo Agostinho e São Tomaz de Aquino. A sua fala em seus programas de rádio (em Cajazeiras pela Alto Piranhas e em Patos pela Espinharas, só para citar duas emissoras) animavam as pessoas e levantavam a autoestima.

Pe. Levi foi vigário das paróquias de Pombal, Malta, Coremas, Boqueirão dos Cochos, Jericó, Bom Sucesso, São José de Espinharas e, em Patos, das paróquias de Santo Antônio, Nossa Senhora da Guia e São Sebastião. Na política foi prefeito da cidade de São José do Bonfim e Deputado estadual. Foi também presidente do Esporte Clube de Patos.

Adeus Padre Levi!
Por fim, como Pe. Levi era um homem de alto astral e sempre de bem com a vida; desejoso de guardar dele essa imagem, concluímos com esse texto folclórico extraído do livro “Paróquia de Santo Antônio – 50 anos de história”, organizado pelo Pe. Paulo Jackson.

“A guerra entre os dois padres” – narra Padre Paulo – “encrenca política entre os padres não é de hoje. Quando Pe. Levi decidiu disputar a deputação estadual, recebeu pesada oposição do seu colega Pe. Noronha, que era muito conservador. Certo dia, Pe. Levi convocou uma passeata com as mulheres de Patos, pedindo que fossem todas de calça comprida, porque poderia dar uma ventania e levantar seus vestidos.
O Pe. Noronha ficou injuriado, e disparou no sermão dominical: “O Pe. Levi, apesar de pastor da Igreja de Deus, não tem vergonha. Esta história de passeata de mulher com calça comprida é somente para ver o tamanho do cachorro de vocês, viu?”.

Nossas condolências aos familiares de Pe. Levi e que ele tenha um descanso em paz. Guardemos vivos na memória e em nossos corações a sua lembrança. 
Créditos de Ângelo Lima (Diário do Sertão)


sexta-feira, 27 de abril de 2012

CPI de Cachoeira: teste para Dilma

por Francisco Frassales Cartaxo
Dilma Rousseff continua muito bem avaliada pela população. Seus índices de popularidade revelados nas pesquisas superam os de Lula, exceto nas intenções de voto para presidente. Isso é surpreendente. Por quê? Porque Lula tem o jeito do povão e construiu enorme popularidade ao longo de sua vida, em particular, desde que ajudou a consolidar o novo sindicalismo brasileiro, longe dos vícios dos partidos comunistas. E Dilma? Antes disso, a jovem estudante esteve imersa na luta armada clandestina. Ou na prisão, resistindo às torturas físicas e psicológicas, firme em suas convicções políticas e ideológicas. Bem sei que nem todos pensam assim. Há quem enxergue nela tão somente a terrorista, assaltante de banco, assassina potencial, enfim, uma espécie de besta fera política.
Dilma não possui os créditos inerentes à sofrida caminhada pessoal de Lula nem dispõe do poder de sedução que ele usa com invejável competência. Ao contrário, de temperamento reservado, com um jeito mandão de governar, ela chega a ser ríspida, para desespero de auxiliares, senadores, deputados e até governadores amigos. Apesar de tudo isso, Dilma segue com índices elevados de aceitação popular, para seu governo e para ela, pes-soalmente.
Uma coisa lhe é muito favorável. Dilma e a gestão Lula se confundem. Como ministra, fez intervenções estratégicas no planejamento e na execução de programas tendentes a mudar a vida das pessoas. Transformada na “mãe do PAC”, ela comandou ações que lhe deram mais visibilidade e o controle da máquina pública federal e, também, a chance de conhecer melhor as malícias da política. Portanto, Dilma, presidente, não fez muito esforço para adaptar-se ao exercício do mando. Já o vinha praticando sob o olhar orgulhoso do seu criador.
Isso fundamenta o sucesso de Dilma, embora não explique tudo. Falta um ingrediente essencial: o combate à corrupção. Assim parece à maioria dos brasileiros. Real ou não, o povo enxerga na demissão de ministros suspeitos de desvios de conduta uma diferença significativa em comparação com atitudes de Lula, visto como muito complacente. Aí está um motivo forte a favor de Dilma. Ela consegue, pelo menos até agora, passar a imagem de firmeza no combate à corrupção. Por isso, o povo chega perto, a classe média aplaude, enfim, cresce sua popularidade, conquanto não seja de sua índole dar tapinhas nas costas, abraços, manter papos nostálgicos com antigos companheiros nos sindicatos, em assembleias partidárias ou em reuniões de intelectuais e religiosos nos albores do PT. 
Coisas assim, não fazem parte da história pessoal de Dilma, forjada no arriscado esconde-esconde da luta armada, buscando sobreviver. Sua proximidade com a população, diferentemente de Lula, se dá pela confiança que ela inspira graças a sua maneira de conduzir o País. A intuição das pessoas descobre em Dilma afinidade com o sentimento do povo, avesso à corrupção. Resta saber se o governo Dilma passará no teste da CPI de Carlinhos Cachoeira.
P S – A luta pelo aeroporto exige resposta concreta. E rápida. Cajazeiras não aceita desculpa amarela. 


quarta-feira, 25 de abril de 2012

Crônica de um aeroporto clandestino

Por Francisco Sales Cartaxo Rolim membro do MAC - Movimento dos Amigos de Cajazeiras
Muitos não sabem que existe um aeroporto clandestino na Paraíba. Nele pousam e decolam aviões. E não é um aeroporto qualquer. Tem acesso pavimentado, pátio de manobra, terminal de passageiros e, pasme o leitor, uma pista asfaltada de 1.600 metros de comprimento! Até nome oficial ele tem: Aeroporto Professor Pedro Vieira Moreira. Mas é clandestino.  Fica em Cajazeiras próximo à BR 230. Pela extensão da pista se iguala ao Aeroporto Presidente João Suassuna, de Campina Grande, conforme dados do site da INFRAERO.
A pista do aeroporto de Cajazeiras está pronta há mais de 16 meses, embora legalmente não exista. Como assim? Um pouco de história faz bem. Ele nasceu da teimosia de cajazeirenses em lutar por causas justas de interesse coletivo, com o mesmo espírito de unidade política em favor da implantação do curso de medicina da UFCG, cuja primeira turma deverá ser graduada no próximo ano. Ou da recuperação do Hospital Regional de Cajazeiras, até transformá-lo num razoável núcleo hospitalar, campo de estágio para os sete cursos da área da saúde em funcionamento na cidade. Nasceu do espírito de gente que promoveu, no início de 2010, um Fórum de Debates de alto nível com dois pré-candidatos a governador (Ricardo Coutinho e José Maranhão) no decorrer do qual ficou explícita a seriedade, a ousadia de Cajazeiras.
Pois bem, cansada de promessas eleitorais, essa gente tomou a iniciativa de forçar a construção do aeroporto, a começar pela cobrança inserida no jornal Gazeta do Alto Piranhas. Ainda hoje está lá a fotografia de um avião a exibir uma faixa com os dizeres “Aeroporto de Cajazeiras - 4.584 dias de promessa”, como se lê no número 698, de 13 a 19 de abril de 2012. Mas essa gente não ficou somente na cobrança semanal do jornal do professor José Antônio de Albuquerque ou no papo de entrevistas e artigos divulgados pela mídia. Essa gente foi mais longe. Com objetividade, engenheiros e empresários caíram em campo e, após muito pesquisar no meio dos matos, fixarem-se numa área de terra considerada tecnicamente adequada para construir o aeroporto. Em seguida, fez-se um esboço da planta da obra, primeiro passo para elaborar o projeto. Mais tarde, com esse papel em mãos, cercaram o governador José Maranhão que falou mais ou menos o seguinte:
- Vou procurar o prefeito Léo Abreu para fazer a doação do terreno.
- Preciso não, governador, o terreno já foi doado, disse um dos pioneiros do grupo que mais adiante criou o Movimento dos Amigos de Cajazeiras - MAC.
- Sendo assim, respondeu Maranhão, fica mais fácil ainda, vou recomendar ao DER que tome as providências para limpar a área e iniciar a construção da pista.
Esse diálogo ocorreu na primeira visita de José Maranhão a Cajazeiras, após assumir o que sobrou do mandato do ex-governador Cássio Cunha Lima, interrompido por decisão judicial. A doação de 95% do terreno foi feita pelo médico cajazeirense José Maria Moreira (foto), radicado em São Paulo. A nesga de terra complementar foi agregada em seguida, de modo que, às vésperas do São João de 2009, fez-se uma festa, com palanque e tudo, para simbolizar o início da construção da pista. Sucateado como estava o DER, foi um Deus nos acuda. O MAC, àquela altura já criado, passou a acompanhar, semanalmente, o desenrolar dos trabalhos de nivelamento do terreno: a perfuratriz quebrou, a caçamba está na PB 400, faltou combustível, a chuva atrapalhou... Deslocar a rede de alta tensão demorou mais de três meses! Parecia praga de tartaruga!
Aos trancos e barrancos, contudo, antes de sair do poder, Maranhão deixou concluída a pista e iniciada a edificação do terminal de passageiros. Desde então, decorreram mais de 15 meses, intervalo no qual ficou pronta a pequena estação de passageiros. Faltam, porém, as obras complementares, es- tacionamento, cercar, iluminação noturna e outros serviços de engenharia, além da regularização de pendências legais para, finalmente, requerer-se a homologação do Aeroporto Pedro Moreira. Assim me explicaram.
Hoje Cajazeiras se sente como o náufrago a olhar a praia, aí bem perto do Palácio da Redenção. Cajazeiras anda inquieta com a demora das autoridades estaduais em cuidar de um equipamento importantíssimo para o desenvolvimento do sertão e da Paraíba. Anda preocupada, temendo que a deterioração dos investimentos públicos, já realizados, termine por chamar a atenção do Ministério Público. Preocupada, mas confiante na palavra do governador Ricardo Coutinho, empenhada e reiterada em audiência ao MAC, em agosto de 2011, e publicamente. Ninguém gosta da clandestinidade. Cajazeiras quer um aeroporto legal. Homologado pela ANAC. Só assim, aquela gente espantará a imagem da tartaruga a voar sobre o Açude Grande.